Prós e contras do ensino doméstico
Com uma crescente expansão em Portugal nos últimos anos, o ensino doméstico tem tido cada vez mais adeptos entre as famílias portuguesas. É legal em Portugal, contrariando assim a ideia que a Escola é obrigatória – na verdade, o que é obrigatória é a educação académica, sem que as crianças e os jovens tenham, necessariamente, de frequentar uma instituição escolar como vulgarmente a conhecemos.
Numa altura do ano em que começam a estar em cima da mesa as decisões para o próximo ano lectivo, clarificamos hoje no Mãe-Me-Quer a temática do ensino doméstico.
- O que é, como se processa, quem pode fazer?
- Prós e contras do ensino doméstico
Os prós do ensino doméstico:
- Liberdade de aprendizagem
A aprendizagem respeita o ritmo de cada criança, podendo a mesma escolher os conteúdos que, em determinado dia, quer estudar. Este poder de escolha (ainda que orientado pelo tutor) permite ainda o recurso a metodologias diversificadas: idas a bibliotecas, museus, pesquisas da Internet – todo um conjunto de opções que não se confinam ao estudo de um manual e à aprendizagem na sala de aula.
- Perigos da escola
Muitos pais com crianças em ensino doméstico apontam esta como uma das principais vantagens: a não exposição dos respectivos filhos aos perigos do ambiente escolar e no relacionamento interpessoal, numa procura da preservação da auto-estima e autoconceito das crianças, ao mesmo tempo que procuram não os sujeitar à pressão social para experimentação de tabaco ou drogas, vestuário de determinada marca, bullying, indisciplina, abuso sexual, entre outros.
- Ritmo do aluno
Este tipo de ensino permite uma adaptação ao ritmo de cada aluno: por exemplo, concentrarem as suas aprendizagens somente na parte da manhã ou da tarde, organizar programas com os pais durante a semana ao invés de apenas terem esse tempo livre ao fim-de-semana, iniciarem o estudo mais cedo ou mais tarde do que os horários impostos pelas aulas. Além disso, soma-se também como vantagem o tempo economizado nas idas e vindas para a/da escola.
- Mobilidade geográfica dos pais
Este tipo de ensino pode constituir uma mais-valia para pais que, regularmente, necessitem de se ausentar da sua residência permanente, sem com isso prejudicarem a frequência da escola ou a dinâmica familiar. Para pais com folgas rotativas ou horários nocturnos, o ensino doméstico permite passar mais tempo de qualidade em família.
- Valores, crenças, ideais
Proliferam os colégios católicos ou as aulas de EMRC, por exemplo, mas não há escolas ou disciplinas direccionadas para outras religiões ou crenças/ideologias de vida. Como tal, muitos pais, procurando proteger os filhos de desrespeito pelos valores que lhes pretendem incutir, optam pelo ensino doméstico.
- Espírito crítico
No ensino doméstico, há uma grande ênfase na criatividade e dinamismo da criança, levando-a à aprendizagem pela descoberta, à experiência por si própria, a questionar o que a rodeia. Este tipo de raciocínio é uma mais-valia para, mais tarde, o jovem/adulto apresentar teorias, formas e soluções que o mercado de trabalho tanto pede e designa como “pensar fora da caixa”.
Os contras do ensino doméstico:
- Socialização
Não frequentando a escola diariamente, as oportunidades de socialização ficam bastante reduzidas, uma vez que, durante o dia, os eventuais vizinhos ou familiares que a criança possa ter da sua faixa etária, frequentam a escola, ATL, centros de estudos e, ao final do dia, por norma, estão confinados aos trabalhos de casa e outras tarefas similares.
Ainda assim, os pais com crianças em ensino doméstico procuram muitas vezes inscrevê-los em actividades extra (desporto, música, informática, línguas, escutismo, etc.), não só para poderem aprender outros conteúdos, mas sobretudo para terem oportunidade de estarem com outras crianças da sua idade, relacionando-se com elas, partilhando experiências e adquirindo competências sociais (comunicação, gestão de conflitos, etc.).
- Dificuldades nalgumas matérias/disciplinas
sobretudo nos anos escolares mais avançados, a possibilidade de o tutor (e respectiva família e núcleo de apoio) se depararem com matérias que não conseguem dominar sozinhos ou com recurso a pesquisas é bastante alta. Se for o seu caso, não hesite em solicitar, por exemplo, ajuda a um centro de estudos ou a um professor que possa dar algumas explicações.
- Integração numa escola regular após um período em ensino doméstico
se houver a necessidade ou o interesse de integrar a criança numa escola regular depois de um período em ensino doméstico, a sua adaptação poderá não ser fácil, uma vez que o contexto e regras de aprendizagem, além da socialização inerente, poderá ser muito exigente para aquilo a que a criança está habituada, tanto ao nível académico como pessoal.
A escola, grosso modo, não está preparada para se adaptar ao ritmo das crianças, às suas perguntas e curiosidades, bem como ao ensino com recurso a metodologias alternativas.
- Auto-regulação da aprendizagem
Para se frequentar ensino doméstico, e contrariamente ao que muitas pessoas possam imaginar, é necessário ritmo, disciplina e auto-regulação. É necessário não esquecer que, apesar de toda a liberdade inerente, há exames obrigatórios para realizar no final de cada ciclo, pelo que a criança poderá não estar convenientemente preparada se não houver alguma regulação do processo de aprendizagem, que terá de partir (pelo menos) do tutor.
- Limitação na aquisição de conhecimentos com um tutor
A aprendizagem está, de um modo geral, limitada à visão e opinião do tutor, havendo falta daquilo a que se chama o “conhecimento colectivo”, isto é, aquilo que podemos aprender com outros colegas, outros professores e outros adultos, fruto das suas experiências, vivências e histórias de vida.
Caso pondere a opção de ensino doméstico, sugiro que pesquise, que leia, que se informe e que envolva a sua família numa decisão que é tão importante. Pondere objectivamente os prós e os contras, uma vez que apesar de existirem casos de sucesso, também haverá casos onde o ensino doméstico não funcionou. Não se esqueça que cada caso é um caso, cada família é uma família, e que nem tudo o que serve a uns serve para todos.
Se no final da sua ponderação optar pelo ensino doméstico, poderá encontrar na sua zona de residência outros pais com a mesma opção académica com quem partilhar dúvidas, dificuldades e até actividades. A internet também se encontra com fóruns, blogues, sites e grupos do facebook que podem facilitar essa tarefa.