Já passou (praticamente) um mês desde que as aulas (re)começaram. Ao longo deste mês, os vossos filhos pareceram perfeitamente integrados, com amigos, com bons relacionamentos com professores e auxiliares e até com algum entusiasmo.
No entanto, há um dia em que começam a dizer que não gostam da escola, que não querem ir à escola, chegando ao ponto de ficarem doentes. E agora?
O que fazer?
A primeira coisa a fazer, e por mais difícil que possa ser, é manter a calma e transmitir segurança à criança. Nunca se esqueçam que a criança é emocionalmente dependente do adulto e tende a imitar os seus comportamentos, pelo que se os pais estiverem calmos, a criança tenderá também a ficar calma.
Depois, é preciso operacionalizar o problema: houve alguma mudança recente (em casa, na escola)? Essa recusa manifesta-se todos os dias? Quem me pode ajudar a compreender o problema?
É importante não dramatizar mas também não ignorar: dar uma maior intensidade ao problema ou fingir que ele não existe não resolve nada. Nunca se esqueça também que aquilo que para si pode ser uma situação a desvalorizar, para a criança é uma situação relevante, pelo que é importante que se procure uma resolução mais activa do problema.
Observe atentamente o comportamento do seu filho, e procure identificar sinais de mudança no mesmo, que possam ajudar a compreender o problema.
Como despistar possíveis problemas?
Há vários mecanismos que nos podem ajudar a compreender o problema no seu todo, e sempre que possível deveremos recorrer a todos eles, de forma a obter o máximo de informação possível: falar com a criança, falar com os adultos da escola da criança (professor, educador e/ou auxiliares), falar com outros pais e ainda observar o comportamento da criança, quando está com ela.
Alguns dos problemas que podem estar na recusa da ida à escola:
- Conflitos (com um professor/auxiliar, com colegas/amigos);
- Desagrado de uma disciplina ou actividade (por exemplo, haver recusa na ida à escola somente nos dias em que têm actividade física, por não conseguir fazer a actividade, por não gostar ou por gozarem com a criança; podemos também incluir aqui a insatisfação com a alimentação ou com a forma como a mesma decorre);
- Perda da novidade – especialmente nos mais pequenos, a escola é toda uma novidade nos primeiros tempos, estando até muito entusiasmados no regresso às aulas e ficando os pais bastante aliviados com isso. Porém, quando o factor novidade passa e percebem que tudo aquilo é uma rotina, tendem a recusar a escola;
- Discussões em casa – muitas crianças preferem ficar em casa do que ir à escola quando os pais discutem, para “garantir” que os mesmos ficam juntos e não se zangam mais;
- Dificuldades de aprendizagem – quando as crianças começam a sentir dificuldades numa determinada matéria, mais ou menos generalizada à globalidade da aprendizagem, o mais provável é começarem a querer evitar a experiência do fracasso e, como tal, não quererem ir mais à escola;
- Situações de avaliação – testes, exames, apresentações de trabalhos. Sendo situações de normal ansiedade, é vulgar haver crianças que apresentem rejeição à escola por este motivo.
- Bullying – normalmente só se fala de bullying já nas situações extremas, mas a verdade é que todas elas têm um início: um comentário, um “encontrão”, um “deita-abaixo”. Mesmo numa fase inicial, o bullying é um dos motivos recorrentes da recusa a ir à escola.
Como agir com a criança?
Numa situação destas, a criança necessita de carinho, atenção e de se sentir segura. Mas também de firmeza. Muitas crianças apresentam sintomas psicossomáticos (isto é, doenças físicas com origem causada por situações de foro psicológico/emocional), na esperança que os pais corroborem a sua vontade de não ir à escola.
Já lhe aconteceu, por exemplo, o seu filho ter uma grande dor de cabeça ou de barriga à hora de se preparar para a escola, e ter passado assim que lhe disse que podia ficar em casa? Aí está! Na realidade, a cabeça e a barriga doem mesmo, e há crianças que chegam mesmo a vomitar ou a ter febre. A verdade é que, resolvendo-se o problema que está a causar a recusa da criança, estes sintomas desaparecem também.
Não ceda na questão de poder ficar em casa: apenas estará a adiar um regresso à escola que será inevitável. Acompanhe-a, despeça-se de uma forma breve, dizendo-lhe a que horas a virá buscar e saia.
Procure ser sempre coerente no seu discurso e nas suas acções, e convém que os pais (ou outros adultos que coabitem) estejam de acordo relativamente às decisões tomadas ou a tomar.
O que dizer à criança?
Independentemente do que tenha originado o comportamento da criança, não vale a pena dizer-lhe que vai correr tudo bem, como se fosse magia: porque não vai. Os problemas não se resolvem sozinhos. Lembre-se que a criança não quer ser convencida de nada, quer somente a presença dos pais ou ficar em casa, porque isso a retira da situação que, para ela, é emocionalmente negativa.
Explique-lhe que compreende o que ela sente, mas que esta é a hora da escola e que, no final do dia, a irá buscar (ou indicando quem vai) e que irão fazer algo de divertido em casa em conjunto.
Demonstre-lhe a sua disponibilidade e refira-lhe que estará sempre pronto a ouvi-la e a ajudá-la em todos os seus problemas.
Falar com a professora?
Muitos pais recusam a ideia de falarem com os professores/educadores com medo que os filhos fiquem “marcados” e que ainda seja pior. No entanto, os professores/educadores são os adultos que melhor conhecem os vossos filhos na escola, porque são eles que os conhecem enquanto alunos e que mais facilmente conseguem compreender o que se passa.
Se o problema da recusa na ida à escola for precisamente o professor/educador, não deixe de falar com eles; no entanto, se preferir, pode tentar perceber junto dos outros pais se existem queixas relativamente às mesmas situações, e pode também optar por falar com um superior hierárquico do professor (ex.: director).
Não existe nenhum motivo para a recusa da ida à escola. E agora?
Se tudo já foi despistado, se não se encontra nenhum motivo plausível e mesmo assim a criança continua a recusar-se a ir à escola, então chegou a hora de procurar ajuda especializada para a resolução do problema. Os casos de fobia escolar existem e podem ser tratados.
Por opção da autora, este artigo não foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico.