A vacinação pode representar, tanto para bebés quanto para os seus pais, um momento de receio. Seja pelo ambiente estranho, pelo medo das reações à vacina, pelo medo de agulhas, entre muitos outros. No entanto, é algo fundamental para proteger os seres humanos de alguns vírus. A forma como os pais e os enfermeiros e médicos lidam com o momento é muito importante para desdramatizar a situação “aos olhos do bebé”.
Estratégias para a vacinação infantil
Os pais e o seu papel na reação dos filhos
É importante que os progenitores falem com os seus filhos sobre como é realizada a vacinação – como decorre todo o processo – e qual a importância desse ato.
Também a postura dos pais pode fazer muita diferença na reação do bebé/criança.
Tal facto foi constatado através de uma investigação realizada por uma equipa de cientistas da Universidade York, no Canadá.
O estudo consistia na observação da reação de 548 crianças a partir dos 12 meses de idade que, no momento da vacinação, se faziam acompanhar do pai, mãe ou ambos. A conclusão foi clara: o comportamento dos pais interfere na forma como o bebé/criança encara o momento.
Em entrevista à revista Bebé Abril, o pediatra Daniel Jarovsky, disse que “os pais são, normalmente, o ‘porto seguro’ das crianças, e, se eles estiverem ansiosos, incomodados ou desconfortáveis com a situação, o filho pode acabar por absorver as mesmas sensações“, sendo “por isso importante que os pais transpareçam segurança e tranquilidade”. Desta forma, irão acalmar o filho.
Também a comunicação tem um papel primordial. Com os bebés esta estratégia não irá resultar, mas com os “mais crescidos” pode ajudar.
“Experimente explicar a importância da vacina com uma linguagem didática e lúdica, dizendo [por exemplo] que serve para deixá-lo ‘mais forte’, que ficará menos vezes doente e que é uma ‘picadinha’ rápida”, recomenda o médico.
É importante que não minta. Essa “mentirinha piedosa” pode mudar a confiança que o seu filho tem em si.
“Evite dizer, por exemplo, que não vai doer nada.
Pode fazer analogias com animais, como uma ‘picadinha’ de formiga ou de um passarinho. Pode também dizer que a vacina pode, sim, incomodar um pouco”, aconselha o pediatra Daniel Jarovsky.
Segundo a pediatra da Sociedade Beneficente Israelita Albert Einstein, Mariana Nudelman, a forma como os adultos falam da vacinação pode aumentar o receio da criança.
“Existe um comportamento cultural de usar a vacina como algo mau, como por exemplo ‘se não vai obedecer, vou-te levar ao doutor para levares uma injeção’. É importante alterar essas falas, porque elas fazem a criança ter medo das vacinas”, afirma.
E se ainda assim a criança fizer birra?
Se mesmo assim a criança fazer birra, os pais devem consolá-la. Também devem reforçar que não há problema em chorar e ter medo, realçando sempre que é importante levar a vacina e que vai ser rápido.
Pode sempre, como explica o Dr. Daniel Fleury, fazer uma brincadeira. Dizer que também o seu super-herói favorido (Hulk, por exemplo) também tem de levar vacinas.
O papel do ambiente
Cada vez mais se verifica no espaço de vacinação cores neutras e calmas, autocolantes de super-heróis e princesas, bonecos, etc. De acordo com o pediatra, esses “brinquedos, músicas cantadas e outros ‘distratores’ ajudam a desvincular a ideia negativa do espaço médico“.
Também a interação dos profissionais de saúde com a criança, brincando com ela, com uma bata colorida ou com elementos de distração, como um bordado, podem ajudar a acalmar a criança, evitando assim o “clima de ambiente hospitalar”.
Estratégias para a picada não doer tanto
Existem estratégias para distrair as crianças da picada, como o caso do Buzzy. Este é um dispositivo vibratório que é colocado no local onde a criança leva a injeção. Assim, consegue distraí-la devido à sua vibração e à sua forma (tem o formato e aspeto de uma abelha).
No entanto, devido ao elevado custo não é tão popular quanto seria desejável. Ainda assim, existem, de acordo com o médico Daniel Jarovsky, outras técnicas para distrair a criança, como a administração simultânea de duas vacinas – uma no braço, outra na perna, por exemplo.
Já passou! Deve a criança ter direito a recompensa?
A resposta pode diferir de especialista para especialista, mas a maioria concorda que é importante, sim. No entanto, claro que depende do tipo de recompensa. Não se deve premiar a coragem com um doce, por exemplo.
“A recompensa é muito útil. Pode ser um adesivo, um carimbo com tinta atóxica, um certificado [de valentia], dizendo que a criança cumpriu a vacinação, entre outros.
A criança sabe que vai doer um pouco, mas que será rápido e que depois receberá algo em troca [um incentivo não material]”, declara o pediatra, esclarecendo ainda que esta é, no seu entender, “uma forma lúdica e válida, que não estará a enganar ninguém”.