Respiração oral e suas consequências
Quando nascemos, a função desempenhada pela nariz é a respiração.
A respiração nasal propicia qualidade ao ar que inspiramos, limpa, filtra, aquece e humidifica-o fazendo com que chegue aos nossos pulmões com uma boa qualidade, protegendo as vias aéreas.
Este tipo de respiração favorece o posicionamento correto dos órgãos fonoarticulatórios, garantindo o bom desempenho das funções estomatognáticas (1).
No entanto, nem sempre a respiração é assim. Devido a rinites, hipertrofia das amígdalas e/ou adenoides, flacidez dos músculos da face, desvio do septo nasal, entre outras causas, as crianças podem alterar o seu modo de respirar começando a fazê-lo oralmente.
As crianças respiradoras orais evidenciam alguns sinais como olheiras, narinas estreitas, lábios/língua/bochechas com pouca força, lábios secos, lábio superior curto, língua grande e volumosa, respiração ruidosa e nariz entupido, mastigação unilateral, de boca aberta, assimetrias da face, má oclusão dentária e palato alto e estreito.
Respiração oral e suas consequências
A respiração oral pode ter como consequências alterações no crescimento crânio-oro-facial, na fala, na alimentação, na postura corporal, na qualidade do sono e no desempenho da criança ao longo do dia. A fala pode estar alterada devido à flacidez da musculatura facial, do posicionamento da língua, de uma má oclusão dentária ou por deficiências no crescimento da face.
As alterações de fala mais descritas nos respiradores orais são: anteriorização da língua na produção dos fonemas línguo-dentais (t-d), imprecisão nos fonemas bilabiais (p,b,m) e fricativos (f,v,s,z,ch,j) e sigmatismo frontal ou lateral.
Também é importante referir que as crianças respiradoras orais podem ter tendência a serem mais irritáveis e agitadas, assim como podem apresentar sonolência diurna ou imaturidade nas habilidades de processamento auditivo. Todas estas intercorrências podem acarretar dificuldades escolares. Além disso, podem não gostar de atividades que exijam esforço físico, pois cansam-se facilmente.
O respirador oral é vulnerável a otites. Isto pode interferir na capacidade de perceção dos sons da fala durante o desenvolvimento, determinando atrasos e/ou alterações. Esta dificuldade na perceção dos sons dificulta a aquisição e/ou correção da fala e da escrita.
Nos primeiros anos de escolaridade, a pronúncia das palavras influencia diretamente a aprendizagem da leitura e escrita a ponto de afetar a aquisição e desenvolvimento das mesmas.
Como podem ajudar os pais?
- Ensinar a criança a limpar bem o nariz.
- Lavar com soro fisiológico.
- Fazer exercícios de fortalecimento de lábios (beijinhos, assobios, encher bochechas e evitar que rebentem quando se bate nelas).
- Segurar uma espátula entre os lábios enquanto vê televisão, monta um puzzle ou pinta um desenho.
- Soprar bolas de sabão inspirando pelo nariz e expirando pela boca.
Respirar pelo nariz é essencial para o bom funcionamento de outras funções (mastigar, engolir e falar) promovendo uma melhor qualidade de vida à criança.
As consequências estruturais e funcionais da respiração oral, muitas vezes são irreversíveis espontaneamente, então torna-se necessário uma identificação o mais precocemente possível para que uma atuação multidisciplinar possa atuar.
Entre os vários profissionais, o terapeuta da fala pode contribuir bastante para a qualidade de vida destas crianças e ao atuar sobre o desenvolvimento da linguagem e fala e nas funções estomatognáticas, auxilia o desenvolvimento da leitura e escrita.
(1) Funções responsáveis pela mastigação, deglutição e fala.