Estima-se que em Portugal haja pelo menos 150.000 doentes com hepatite, sabia? E possivelmente muitos casos da doença nem sequer estarão diagnosticados!
A hepatite é uma doença bem mais comum do que aparenta. Apesar de uma pessoa que adoeça por hepatite possa recuperar sem qualquer problema, do outro lado do espetro esta pode culminar em cancro do fígado. Tudo depende do tipo de hepatite.
Este artigo explica o que é a hepatite, as suas causas e tipos e ainda formas de tratamento e prevenção.
O que é a hepatite?
Como vimos acima, de forma muito simples, a hepatite é uma inflamação no fígado que pode ser causada por vários fatores. O mais frequente são os vírus.
O fígado é um órgão responsável por várias funções no organismo. A remoção de toxinas, digestão e armazenamento de energia são alguns exemplos.
A hepatite desenvolve-se se por uma razão: o fígado não consegue desempenhar alguma das suas funções corretamente.
Existem duas formas de hepatite:
- Aguda (curta duração)
- Crónica (duração de 6 meses ou mais)
A hepatite pode-se curar por si só, apenas com descanso e dieta. Este é o caso da hepatite aguda. Contudo, pode ter consequências bem mais graves. Pode, pois evoluir de forma negativa causando cicatrizes (fibrose), cirrose, cancro ou até insuficiência hepática (falência no funcionamento do fígado).
Existem seis tipos de hepatite: A, B, C, D, E e G. A gravidade da doença poderá ser determinada pelo tipo.
Quais são os sintomas da hepatite?
Muitos casos de hepatite não apresentam sintomas. Contudo, se houver sintomas, os mais comuns são:
- Febre
- Cansaço
- Mal-estar
- Náuseas
- Vómitos
- Diarreia
- Fezes de cor clara
- Dor abdominal
- Falta de apetite
- Urina escura
- Icterícia (coloração amarelada da pele e dos olhos)
Quais são as causas da hepatite?
Dependendo do tipo de hepatite, a doença pode ser provocadas por:
- Vírus
- Bactérias
- Produtos tóxicos (medicamentos, plantas ou álcool)
- Sistema imunitário do próprio doente (hepatite autoimune)
Com a hepatite autoimune o próprio sistema imunitário, sem qualquer razão aparente, começa a atacar as células do fígado em vez de as proteger. Esta hepatite é mais frequente nas mulheres, entre os 20 e os 30 anos e os 40 e os 60 anos. Geralmente transforma-se numa doença crónica.
Tipos de hepatite
Como vimos acima, existem seis tipos de hepatite: A, B, C, D, E e G, causadas por vírus ou bactérias.
As formas mais frequentes nas crianças são a hepatite A e a E pois são principalmente de transmissão fecal-oral. Isto significa que são transmissíveis através do consumo de água ou alimentos infetados e contacto com objetos também infetados. Como as crianças levam muitos dos brinquedos e outros objetos à boca, a partilha destes com outras crianças é fator de transmissão da infeção.
Hepatite A
A hepatite A é uma infeção aguda, causada por um vírus. É uma infeção frequente em Portugal e geralmente transmite-se por via fecal-oral, como vimos. Normalmente cura-se no espaço de 3 a 5 semanas e é raro exigir hospitalização.
Não existe tratamento, exceto repouso e dieta para que o fígado possa recuperar.
Os sintomas deste tipo de hepatite dependem normalmente da idade do doente e inicialmente parecem os de uma gripe, com febre, dores no corpo e mal-estar. Depois surgem outros sintomas como vómitos e icterícia.
Em crianças com menos de 6 anos de idade, a infeção só se manifesta em 30% dos casos. Portanto, muitos casos podem passar despercebidos. Em crianças mais velhas e adultos a infeção causa sintomas em mais de 70% dos casos.
A forma de prevenção da hepatite A é através de hábitos de higiene. Em viagens a países com menos condições sanitárias deve-se optar por água engarrafada e alimentos embalados e lavar as mãos com maior frequência. Existe vacina para quem viaja para estes países.
A vacina é gratuita, mas não está incluída no Programa Nacional de Vacinação.
Hepatite B
A hepatite B é provavelmente o tipo mais grave da hepatite pois nos casos mais graves pode ser fatal.
As infeções por este tipo de vírus afetam milhões de pessoas em todo o mundo. Efetivamente, a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que morram por dia 600.000 doentes em consequência da hepatite B.
É também causada por um vírus e o doente pode desenvolver doença aguda e/ou crónica. casos agudos, é necessário repouso. Nos casos crónicos é necessária medicação. Em cerca de 5% dos casos a hepatite B em adultos torna-se crónica, podendo provocar cirrose hepática e cancro do fígado.
A maioria das pessoas infetadas pelo vírus da hepatite B não desenvolve sintomas na fase inicial da infeção, sobretudo as crianças. Mas o facto de não existirem sintomas não significa que a infeção esteja controlada.
O contágio do vírus da hepatite B pode dar-se através de:
- Contacto sexual
- Grávida para feto
- Partilha de agulhas, seringas ou material com sangue contaminado (material não esterilizado para tatuagens, acupuntura, piercings, partilha de lâminas de barbear ou de escovas de dentes com sangue contaminado)
Apesar de grave, a infeção por este tipo de vírus pode ser evitada, tanto através dos devidos cuidados, como através de vacina.
Em Portugal, a vacina está integrada no Programa Nacional de Vacinação desde 1995. Recomenda-se que seja administrada da seguinte forma:
- 1ª dose logo após o nascimento ainda na maternidade/hospital
- 2ª dose aos 2 meses de idade
- 3ª dose aos 6 meses de idade
Hepatite C
A hepatite C é causada por um vírus e pode também conduzir a doença aguda e/ou crónica. Cerca de 20 a 30% dos doentes com o vírus recuperam espontaneamente após a infeção aguda. Os outros 70 a 80% sofrem uma evolução negativa para hepatite crónica. Deste últimos, em 20% a hepatite C crónica pode causar cirrose, cancro do fígado ou insuficiência hepática.
Estima-se que existam 70 mil portadores do vírus da hepatite C em Portugal. É ainda a principal causa de cancro do fígado no nosso país, com 60% do total de casos. Finalmente, é responsável também por cerca de 25% dos casos de cirrose.
O contágio da hepatite C dá-se da mesma forma que o tipo B:
- Contacto sexual
- Grávida para filho
- Partilha de agulhas, seringas ou material com sangue contaminado
O risco de uma mãe transmitir o vírus ao filho durante a gravidez ronda os 6%. Ainda não se sabe se a infeção ocorre durante a gravidez ou cerca da altura do parto. A maior parte dos médicos considera a amamentação segura.
A única forma de prevenir a hepatite C é tomando os devidos cuidados (ver acima). Não existe atualmente uma vacina para este vírus.
Hepatite D
A hepatite D pode ocorrer em simultâneo com a hepatite B ou depois de a pessoa já ser portadora do vírus da B. Isto causa um agravamento da infeção.
Se ocorrer em simultâneo com a B, a infeção pode ser grave e fulminante. Raramente evolui para uma forma crónica. Quando ocorre quando o doente já tem o vírus da hepatite B, provoca uma infeção aguda grave e evolui para hepatite crónica em 80% dos casos.
O contágio é feito por via sexual ou com o contacto com sangue contaminado. Embora não haja vacina para este vírus considerando que este só infeta doentes com tipo B, a vacina para o vírus previne também a infeção pelo vírus da D.
Hepatite E
A hepatite E é mais comum em climas quentes e em países em desenvolvimento com condições de higiene e saneamento deficientes. Transmite-se através do consumo de água ou alimentos contaminados.
Não costuma causar infeção grave, nem evoluir para uma doença crónica. O risco de complicações é mais elevado nas grávidas. Se o vírus for contraído durante o terceiro trimestre de gravidez pode ser fatal num quanto dos casos.
As infeções por este vírus atingem cerca de 4,2% da população portuguesa. Já existe vacina testada, mas ainda não está disponível para ser comercializada.
Hepatite G
A hepatite G foi recentemente descoberta. Desconhecem-se, ainda, todas as formas de contágio possíveis, mas sabe-se que a doença é transmitida, sobretudo, pelo contacto sanguíneo.
Fontes: Hospital Prof Doutor Fernando Fonseca; SNS 24; MSD Manuals
A informação presente neste artigo não pretende, de qualquer forma, substituir as orientações de um profissional de saúde ou servir como recomendação para qualquer tipo de tratamento.
Assim sendo, perante qualquer incómodo, aconselhamos que se desloque ao seu médico assistente a fim de obter o diagnóstico e tratamento adequado.