Quando as mulheres engravidam, uma das primeiras perguntas que querem ver respondidas é se o desenvolvimento fetal está a decorrer normalmente e qual o sexo do bebé.
Tanto a primeira como a segunda questão podem ser respondidas através da observação médica durante as ecografias na gravidez. Contudo, por vezes nem sempre é possível perceber na 1ª ecografia qual o sexo do bebé devido à sua posição ou por estar ainda numa fase muito inicial do seu desenvolvimento. Existem outros exames fidedignos, como o exame sanguíneo sexagem fetal, cuja taxa de precisão é de cerca de 99%, que permite descobrir, a partir das 8 semanas de gestação, se está à espera de um menino ou menina. Mas, ainda assim, há quem não queira ou consiga esperar tal é a ansiedade de começar a preparar tudo para a chegada do novo membro da família. Havendo outras formas mais alternativas de descobrir qual o presentinho que a cegonha decidiu trazer, muitos são os pais que escolhem caminhos menos tradicionais como o método Ramzi.
Método Ramzi
O método Ramzi tem ganhado muita popularidade, especialmente nos fóruns online e nas redes sociais. A sua maior vantagem comparativamente aos restantes métodos é a capacidade de prever o sexo do feto quando a mulher está de apenas 6 semanas de gestação.
Visto tratar-se de um método descrito por um médico que estudou o fenómeno, este acaba por ter mais credibilidade do que tantos outros que se encontram na internet, como a tabela chinesa, por exemplo.
No que consiste?
Desenvolvido alegadamente pelo médico Saam Ramzi Ismail e publicado no site Contemporary Obstetricion & Ginecology em 2011, o método Ramzi permite estabelecer uma relação entre a posição da placenta e o sexo do feto com 6 semanas de gestação.
Para determinar essa associação, foram realizadas, entre 1997 e 2007, ecografias pélvicas e endovaginais a cerca de 5400 grávidas com 6 semanas de gravidez, que se viriam a repetir quando tivessem entre 18 a 20 semanas de gestação para confirmação do sexo do bebé.
Em 97,2% dos fetos masculinos a placenta estava implantada no lado direito do útero, enquanto que em 97,5% dos fetos do sexo feminino a placenta estava implantada no lado esquerdo.
Estes dados permitiram ao autor sénior do estudo concluir que a posição da placenta permite descobrir o sexo do bebé com uma eficácia superior a 97%.
Controvérsias do método Ramzi
Apesar da investigação ter sido publicada em formato de estudo científico no website da área de Ginecologia e Obstetrícia, a verdade é que o método Ramzi está envolto em diversas controvérsias.
O alegado artigo científico não pode ser reconhecido como estudo científico porque o site onde foi publicado não é uma fonte reconhecida para publicações científicas, uma vez que os estudos divulgados nesta plataforma não passam pela chamada revisão de pares.
Ou seja, para ser publicada, a investigação não precisou passar por nenhuma avaliação criteriosa de outros especialistas no assunto ou membros da comunidade científica, um princípio básico dos estudos científicos.
Por esse motivo, o estudo em questão não está presente em nenhuma base de dados científica, como o Pubmed, por exemplo.
Outro ponto que suscita dúvidas é a falta de descrição sobre os autores do artigo (informações sobre o percurso académico e profissional). Ainda que seja possível verificar a identidade do suposto autor noutros sites, nenhum deles é do âmbito científico. Dessa forma, paira no ar a dúvida se o médico é ou não habilitado para escrever sobre o tema.
Mas existe alguma evidência ou validação científica de que o método funciona?
Para que existam evidências científicas, a investigação principal deve poder ser replicada de forma a confirmar os resultados. Até à data, não existe qualquer outro estudo científico que tenha conseguido observar a relação entre a posição da placenta e o sexo fetal descrita no método Ramzi.
Ou seja, do ponto de vista científico, este método não tem qualquer validação.
Portanto, o método Ramzi pode e deve ser encarado como uma brincadeira para os pais tentarem adivinhar o sexo do seu filho, tal como a forma da barriga, a tabela chinesa, entre outros.