Durante a gravidez, o seu bebé vive numa bolha suspensa num mundo totalmente aquático, sem ligação ao mundo exterior e não respira através da boca ou do nariz. O sistema respiratório está em pleno desenvolvimento até ao dia do parto e os pulmões só começam a funcionar após o nascimento. Então como respira o bebé no ventre?
A principal função do aparelho respiratório é absorver o oxigénio da atmosfera para o organismo e expelir o anidrido carbónico do organismo para a atmosfera. Para além da função respiratória, o aparelho respiratório também participa nos atos de bocejar, espirrar, tossir, fungar e até soluçar.
Como respira o bebé no ventre?
Durante a gestação, os pulmões não se contraem nem se expandem. No útero, os pulmões são como que duas esponjas secas e duras. O bebé flutua num reservatório de líquido amniótico, que ele filtra em direção aos pulmões, enchendo-os deste líquido.
Dentro do ventre não há ar para respirar. O oxigénio, os nutrientes e outras substâncias essenciais passam para o feto em desenvolvimento através da placenta que é, ao mesmo tempo, os pulmões e os intestinos do bebé.
Esta situação requer um fluxo sanguíneo especial para todo o corpo (processo conhecido como circulação fetal), o qual é alterado após o nascimento, quando os pulmões começam a funcionar.
Respirar através da placenta
Os primeiros nove meses de vida, no interior do útero materno, consistem numa vida aquática, onde o oxigénio é fornecido através do sangue materno que passa para o bebé através da placenta.
Uma vez que os pulmões só começam a funcionar (a respirar) logo após o nascimento, o sangue oxigenado não vai aos pulmões sendo toda a circulação sanguínea fetal assegurada em exclusivo pelo coração.
Os pulmões recebem a sua dose de oxigénio, mas apenas a quantidade necessária para preencher as suas necessidades, à semelhança de qualquer outro órgão.
Prática respiratória no útero
Por volta das 25 semanas da gestação, os pulmões já desenvolveram a maior parte das vias respiratórias e os alvéolos (bolsas de ar) e começam a produzir surfatante.
No entanto, ainda não há ar dentro deles, apenas líquido amniótico que entra e sai dos pulmões, à medida que o bebé pratica a respiração. Só depois do nascimento, os pulmões se enchem de ar e o bebé respira efetivamente pela primeira vez.
Durante a gestação, os pulmões do seu bebé estão cheios de líquido amniótico, sendo a oxigenação dos órgãos realizada por meio das trocas gasosas que ocorrem através da placenta.
Nas últimas semanas da gravidez, o feto faz pequenos movimentos respiratórios e um dos efeitos desses movimentos é fazer sair o excesso de líquido dos pulmões. A presença do surfactante impede os pulmões de colapsarem ao mesmo tempo que vão amadurecendo.
A função do surfactante
O surfactante é uma espécie de “detergente natural” que atua nos alvéolos pulmonares e que assegura a elasticidade necessária para a função respiratória.
É uma substância química vital para o recém-nascido conseguir respirar pela primeira vez. Consiste numa mistura complexa de proteínas e gorduras e encontra-se nos pulmões durante toda a vida.
Na expiração, os alvéolos retraem-se e as moléculas de surfactante juntam-se cada vez mais, reduzindo, assim, a tensão superficial e impedindo o colapso dos alvéolos (que ficam vazios, sem ar).
Quando estes aumentam gradualmente de volume, com a inspiração e entrada do ar nos pulmões, as moléculas do surfactante ficam cada vez mais afastadas porque a força que tende a colapsar os alvéolos é muito reduzida.
Síndroma da angústia respiratória
Os recém-nascidos que não têm o aparelho respiratório totalmente desenvolvido (em particular, os prematuros), podem apresentar grandes problemas respiratórios. Tais perturbações recebem o nome de “síndroma da angústia respiratória”.
Um fator que contribui para a imaturidade pulmonar é a falta de surfactante, que os pulmões do bebé prematuro ainda não fabricam. Quando a quantidade de surfactante é insuficiente, a tensão superficial dos alvéolos é superior e a função pulmonar fica diminuída e os revestimentos das vias respiratórias danificam-se rapidamente.
O primeiro fôlego do bebé
Para respirar pela primeira vez, após o nascimento, o sangue tem de circular do coração para os pulmões e o ar substituir o líquido amniótico.
Imediatamente após o nascimento, o diafragma do recém-nascido é sacudido e dá-se a primeira inspiração: o coração é estimulado a começar a funcionar corretamente e os pulmões expandem-se e o ar entra nos pulmões.
À medida que os pulmões puxam o ar para o seu interior, o surfactante ajuda a manter os alvéolos abertos, e o excesso de líquido amniótico contido nos mesmos é absorvido pela corrente sanguínea. O surfactante continua a exercer este papel ao longo da vida.
Quando a respiração do recém-nascido está estabelecida, dá-se um nó e corta-se o cordão umbilical. Os sistemas de vida do recém-nascido tornam-se independentes dos da mãe. O fornecimento de sangue materno cessa e o bebé passa a depender exclusivamente de si próprio para viver.
As primeiras respirações são um trabalho muito exigente para o recém-nascido. Só passados alguns dias após o nascimento é que o recém-nascido adquire a ventilação pulmunar regular