Não, a anestesia epidural e o autismo não têm ligação aparente. Quem o diz não é a Mãe-Me-Quer, mas sim um conjunto de entidades competentes para fazer tal afirmação: Sociedade de Anestesia Obstétrica e Perinatologia (SOAP), Sociedade Americana de Anestesiologistas (ASA), Sociedade de Anestesia Pediátrica (SPA), Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas (ACOG) e Sociedade de Medicina Materno-Fetal (SMFM).
O artigo, publicado na Eurekaalert, surge na sequência de um estudo retrospetivo publicado na JAMA Pediatrics no passado dia 12 de outubro, “Associação entre analgesia epidural durante o parto e o risco de transtornos do espectro do autismo na prole“. As sociedades de diversas especialidades quiseram vir a público afirmar que a investigação carece de evidências científicas que comprovem, de facto, uma relação entre a epidural e o autismo.
Artigos científicos sem evidências cientificamente comprovadas só geram pânico e ansiedade desnecessária
A SOAP, ASA, SPA, ACOG, SMFM decidiram fazê-lo porque entenderam que o artigo podia gerar ansiedade e desinformação nas gestantes que estão prestes a tomar uma das decisões mais importantes deste momento: se querem ou não anestesia. Ainda que essa ansiedade exista sempre, estas sociedades médicas norte-americanas garantem que a associação entre o uso de analgesia epidural pela mãe durante o parto e o risco do bebé sofrer de autismo não tem necessariamente uma correlação. Aliás, segundo a literatura científica, a ligação entre um tratamento para a dor e o desfecho resultando em doença em nada comprova que foi o tratamento o causador dessa patologia.
A professora de Anestesiologia e presidente da Sociedade de Anestesia Obstétrica e Perinatologia, Ruth Landau, explica que a “analgesia neuroaxial é a anestesia padrão para o alívio da dor do parto“. A especialista adianta que, caso surja alguma complicação materna ou fetal, esta anestesia normalmente trabalha a favor da paciente e do bebé.
São milhares as mulheres que, por todo o mundo, beneficiam da epidural nos seus partos sem disso resultarem complicações na saúde da mãe ou do bebé. Além disso, várias são as indicações médicas para analgesia e anestesia durante o trabalho de parto e parto. Face à ausência de contra-indicações médicas, a mulher pode decidir solicitar a epidural para aliviar as dores das contrações do parto.
Anestesia epidural e autismo: Falta de dados e especulação sem provas entre as maiores falhas da investigação
De frisar que a investigação que originou esta revolta por parte de um enorme leque de especialistas, não são cedidos dados relativamente à forma como é dada a anestesia. Além disso, existem muitas outras causas para o autismo infantil se manifestar que não envolvem anestesias.
Ainda que os autores do estudo especulem que alguns fatores, como por exemplo a febre da mãe, poderiam explicar a associação entre a epidural na gestante e o autismo na criança, nenhum dos anunciados chega a ser efetivamente confirmado na análise.
Esta anestesia de que falamos envolve pequenas pequenas quantidades de anestésicos locais. Estes são distribuídos por catéter pelo espaço peridural da coluna da mulher. As quantidades são tão baixas que a percentagem de anestésico que passa para o bebé é ainda mais reduzida, não havendo sequer evidências de que essa exposição de anestésico seja danosa para o desenvolvimento neuronal ou motor do bebé.
Posto isto, o mais importante é que a mulher se informe e tome a sua decisão com consciência. É também importante fazer um (ou vários) plano de parto, não esquecendo nunca que imprevistos acontecem e nenhum parto é igual a outro.