As causas da gravidez de risco são aquelas em que é possível identificar, após avaliação clínica, a presença de um fator acrescido de doença materna, fetal e/ou neonatal. Uma gravidez pode ser considerada de risco desde o início, devido a problemas de saúde crónicos da mãe ou surgirem a qualquer momento da gestação.
Como o risco é um fator dinâmico, pode alterar-se ao longo das 40 semanas da gestação e deve ser reavaliado em todas as consultas durante a gravidez ou em qualquer momento durante a gravidez, sempre que se justifique.
Causas da gravidez de risco
Fatores como a idade materna, obesidade, alterações estruturais do sistema reprodutivo, dificuldade em engravidar, consumo de drogas (mesmo as ditas recreativas), são alguns dos fatores que podem afetar negativamente a evolução da gravidez e a saúde materno-fetal.
A avaliação pré-natal é particularmente importante perante a existência de certos fatores de risco porque permite determinar o risco antes da mulher engravidar e promover os cuidados necessários para que chegue a bom porto sem desequilibrar e agravar a doença ou estado de saúde materno.
Fatores considerados causas da gravidez de risco
1. Idade materna
Entre as causas da gravidez de risco, encontram-se os extremos da idade materna – uma gravidez precoce ou uma gravidez tardia – aumentam os riscos de doença e mortalidade materna e fetal. Nas adolescentes há risco acrescido de pré-eclâmpsia/eclâmpsia, restrição do crescimento fetal e desnutrição.
Nas mulheres com idade igual ou superior a 35 anos, existe maior risco de hipertensão, diabetes gestacional e ganho de peso acima do recomendado durante a gravidez. As alterações cromossómicas no feto também são mais comuns em mulheres com mais idade.
2. Diabetes
As mulheres que sofram de diabetes antes de engravidar devem programar a sua gravidez apenas e só quando os valores de glicemia se encontrarem controlados. A diabetes gestacional aumenta o risco de malformações congénitas do bebé (defeitos cardíacos e do tubo neural).
3. Consumo de tabaco, álcool e drogas
O consumo de substâncias aditivas está associado a diversas patologias de risco como:
- Tabaco: infertilidade do casal, risco de aborto espontâneo, redução da capacidade de fornecer oxigénio ao bebé, baixo peso ao nascer, parto pré-termo (ou parto prematuro), dificuldade respiratória do bebé.
- Álcool: diminuição da fertilidade (baixa contagem e mobilidade dos espermatozoides), aumento do risco de aborto espontâneo, restrição do crescimento intrauterino.
- Drogas: para além dos efeitos negativos na saúde da mãe e no desenvolvimento fetal há a realçar os sintomas de abstinência do recém-nascido que exige tratamento específico após o nascimento.
4. Exposição a agentes tóxicos
Qualquer substância, agente ou fator ambiental capaz de provocar efeitos negativos no desenvolvimento do feto devem ser avaliados antes e durante a gravidez.
Entre estas substâncias, destacam-se certos medicamentos que estão proibidos na gravidez. Para além destes, qualquer medicamento deve ser prescrito pelo médico que acompanha a grávida depois de avaliados os prós e contras. A automedicação está absolutamente proibida na gravidez.
Para além dos medicamentos, os agentes infeciosos (citomegalovírus, listeria, vírus da rubéola, toxoplasmose, vírus da varicela, entre outros), aumentam o risco de infeção do bebé e podem ter consequências graves no desenvolvimento fetal.
5 História obstétrica anterior
Possíveis distúrbios endócrinos, anomalias uterinas, aborto, infertilidade, hemorragia pós-parto/dequitadura manual da placenta, anterior parto por cesariana, pré-eclâmpsia/eclâmpsia, feto morto ou morte neonatal, trabalho de parto prolongado ou difícil são situações que estão entre as causas da gravidez de risco e exigem um acompanhamento próximo da mulher antes e durante a gravidez.
6. História pessoal
A história pessoal também permite identificar possíveis causas da gravidez de risco. As mulheres com asma, depressão, hipertensão, diabetes, epilepsia, artrite reumatóide, doença cardíaca, doença renal crónica, patologia da tiróide devem ser acompanhadas por um obstetra ainda antes de engravidarem.
Os problemas de saúde maternos anteriores à gestação podem afetar a condição de saúde da mãe ao longo da gravidez, o desenvolvimento fetal e a forma com a gestação termina. A saúde ou doença será vigiada continua e regularmente em consulta, com periodicidade adequada a cada caso a definir pelo obstetra.
7. Condições específicas da gravidez atual
Alguns acontecimentos da gravidez podem obrigar a apertar a vigilância da mesma porque podem estar na origem de complicações como o baixo peso ao nascer, parto pré-termo e mesmo à mortalidade materna, nomeadamente:
- Sangramento no início da gravidez, antes das 20 semanas;
- Sangramento no final da gravidez, após as 20 semanas;
- Gravidez prolongada ≥ 42 semanas;
- Hipertensão desenvolvida durante a gestação;
- Rotura prematura das membranas (risco de parto pré-termo);
- Polidrâmnio ou Hidramnios (volume anormalmente aumentado de líquido amniótico);
- Apresentação pélvica do bebé;
- Atraso de crescimento intrauterino (risco de sofrimento fetal).
8. Hipertensão
A pressão arterial elevada na gravidez está na origem de uma complicação a que se dá o nome de pré-eclâmpsia. É uma causa importante de restrição do crescimento fetal, mortalidade perinatal e parto pré-termo.
Em casos raros, a pré-eclâmpsia agrava-se e a grávida pode sofrer convulsões. Trata-se então de eclâmpsia.
9. Gravidez de gémeos
A gravidez de gémeos é considerada uma causas da gravidez de risco porque o corpo da mulher tem que fazer um esforço adicional para nutrir e suportar o desenvolvimento de mais do que um bebé.
Nesse sentido, o número de consultas ou de exames será individualizado e definido pelo obstetra segundo a evolução da gestação e a saúde da mãe e dos seus bebés.
10. Atividade profissional
Certas atividades profissionais são consideradas de risco, como aquelas que implicam a exposição a agentes químicos (chumbo, mercúrio e seus derivados, monóxido de carbono, etc.), físicos (radiações ionizantes, atmosferas com pressão elevada) e biológicos (risco de transmissão de toxoplasmose e rubéola na mulher não imune).
Outras indicações são importantes enquanto medidas de prevenção:
- Descansar o número de horas necessário por dia;
- Não trabalhar em ambientes com risco de choque ou vibrações;
- Não movimentar cargas com peso superior a 10 quilos;
- Não estar mais de 4 horas seguidas de pé;
- Não trabalhar em ambientes ruidosos;
- Não trabalhar em locais com temperaturas extremas (muito quentes ou muito frias).
Avaliação do risco no período pré-concecional
A correta avaliação de todos os fatores que envolvem a vida da mulher e do casal antes da gravidez, são um passo fundamental para diagnosticar os fatores para uma gravidez e risco e, assim, definir logo à partida o encaminhamento para cuidados de saúde diferenciados e o conjunto de medidas e atuações clínicas que ajudem a controlar eventuais danos.
Entre os parâmetros a avaliar incluem-se:
- Vacina anti-tetânica em dia;
- Teste de imunidade à rubéola (se não estiver imune será necessário vacinar-se e só passados 3 meses poderá tentar engravidar);
- Teste de imunidade à toxoplasmose;
- Avaliação do peso e altura (IMC);
- Avaliação da tensão arterial;
- Realização de um exame físico geral;
- Realização de um exame ginecológico completo com colpocitologia (caso a anterior tenha sido realizada há mais de 3 anos, após dois exames anuais negativos).
Recomendações no caso de avaliação de situação de risco
Na consulta pré-concecional poderá ser recomendado:
- O registo do calendário das menstruações para determinação do período fértil;
- Toma de ácido fólico (0,4 mg/dia) e iodeto de potássio (150-200 mcg/dia) a iniciar pelo menos 2 meses antes da interrupção do método contracetivo;
- Prescrição de exames para o pai: rastreio da sífilis, da infeção por VIH e hepatite B;
- Indicações sobre uma alimentação saudável na gravidez;
- Abstinência de tabaco, álcool e drogas;
- Definição do acompanhamento das situações de risco em colaboração com outros serviços de saúde onde a mulher já seja acompanhada;
- Informar o casal sobre os potenciais riscos da gravidez segundo a doença crónica em causa.
Conheça os sintomas de uma gravidez de risco.