O sangramento no final da gravidez é um dos sinais de que o nascimento do bebé está para breve. Mas, também, pode significar o desenvolvimento de alguma complicação obstétrica, o que obriga a um acompanhamento médico mais cuidado e, em alguns casos, ao internamento hospitalar até ao parto.
Na segunda metade da gravidez, a partir da 20.ª semana, cerca de 3% a 4% das mulheres têm sangramento vaginal. Os riscos mais graves associados a esta situação são a morte fetal ou a perda excessiva de sangue e choque hemorrágico da mulher.
Nas situações em que a perda de sangue é elevada, a pressão arterial baixa perigosamente (choque hemorrágico) ou pode levar à formação de pequenos coágulos – trombos – sanguíneos que comprometem a irrigação sanguínea de determinados órgãos (a designada coagulação intravascular disseminada).
Causas de sangramento no 2.º trimestre
1. Aborto tardio
O segundo trimestre de gravidez abarca o período entre a 14ª e a 26ª semanas (do 4º ao fim do sexto mês). O sangramento nesta fase pode indicar um aborto espontâneo tardio assim designado quando ocorre entre a 12ª e a 22ª semana de gestação e pode dever-se a vários fatores, nomeadamente:
- Idade materna avançada;
- Infeções crónicas;
- Dilatação cervical precoce;
- Doenças crónicas maternas debilitantes;
- Má nutrição;
- Consumo de drogas ilícitas.
As complicações de um aborto tardio são o sangramento vaginal, perfuração uterina, infeção do útero e esterilidade. O tratamento consiste em repouso absoluto, hidratação, inibição das contrações uterinas, e cerclage (encerramento do colo do útero cirurgicamente para evitar a expulsão do feto e evitar um parto pré-termo).
2. Outras causas
Outras causas possíveis para o sangramento no 2º trimestre:
- Placenta prévia;
- Descolamento da placenta ou placenta abrupta (separação de toda ou parte da placenta do seu local de implantação);
- Inserção velamentosa do cordão umbilical (rutura dos vasos sanguíneos do lado fetal da placenta);
- Rutura uterina;
- Inversão uterina.
Sangramento no 3.º trimestre
O terceiro trimestre engloba o período entre as 27 semanas e o nascimento do bebé, o que pode acontecer a partir das 38 semanas (parto de termo).
1. Início do trabalho de parto
A causa mais comum de sangramento no final da gravidez é o início do trabalho de parto.
Um dos sinais iniciais do parto consiste na pequena perda de sangue misturado com muco vaginal e com a expulsão do tampão mucoso. Nesta fase, a perda ligeira de sangue deve-se ao rompimento de pequenos vasos sanguíneos à medida que o colo uterino começa a dilatar.
A expulsão do tampão rolhoso pode ser acompanhada por um corrimento pode ter uma tonalidade esbranquiçada, rosada, vermelha ou acastanhada e consistência espessa e gelatinosa, semelhante à clara de ovo.
Características do sangramento:
- Secreção com uma pequena quantidade de sangue misturado com muco;
- Contrações na parte inferior do abdómen, em intervalos regulares, dilatação do colo do útero e apagamento do colo do útero;
- Presença de outros sinais comuns ao início do trabalho de parto.
2. Outras causas
Outras causas que podem provocar sangramento no final da gravidez:
- Complicações da placenta (placenta prévia, descolamento prematuro da placenta ou placenta abrupta). A ruptura da placenta pode ocorrer a qualquer momento da gravidez, mas é mais comum durante o 3º trimestre;
- Inserção velamentosa do cordão umbilical – ou vasa prévia (rutura dos vasos sanguíneos do lado fetal da placenta e que tem início com rutura de membranas, com consequências graves para o bem-estar fetal);
- Rutura uterina (que resulta frequentemente na morte do bebé e que se manifesta com dores abdominais intensas, choque, perda de sangue e dor à apalpação abdominal);
- Inversão uterina (quando o corpo do útero se inverte, saindo pelo colo uterino até ao interior da vagina ou mesmo para lá da vagina).
Causas e características do sangramento da gravidez
- Dor ou sensibilidade uterina;
- Perda de sangue escuro, coagulado ou sangue vermelho vivo;
- Dor uterina súbita, intensa e localizada;
- Pressão arterial baixa, com desmaios, tonturas ou coração acelerado (taquicardia).
Placenta prévia:
- Sangramento vaginal sem dor e com sangue vermelho vivo sem coágulos;
- O sangramento aparece subitamente e geralmente em repouso;
- Pouca ou nenhuma sensibilidade do útero ao toque;
- Surge após a relação sexual com penetração.
Vasa prévia:
- Sangramento vaginal indolor;
- Presença de sinais de parto, como contrações em intervalos regulares;
- Taquicardia fetal seguida de desaceleração acentuada dos batimentos cardíacos do bebé.
Rutura uterina:
- Dores abdominais intensas;
- Choque;
- Perda de sangue;
- Dor à apalpação abdominal.
Sangramento no final da gravidez: fatores de risco
Vários quadros clínicos podem aumentar o risco de complicações que podem levar a sangramento no final da gravidez.
Fatores de risco para descolamento prematuro da placenta:
- Hipertensão;
- Idade superior a 35 anos;
- Uma ou mais gestações anteriores;
- Tabagismo;
- Consumo de drogas ilícitas, como cocaína;
- Rutura da placenta numa gestação anterior;
- Lesão abdominal recente (resultante de uma queda ou de um acidente, por exemplo).
Fatores de risco para placenta prévia:
- Cesariana numa gravidez anterior;
- Gravidez de gémeos;
- Placenta prévia em uma gravidez anterior;
- Idade acima de 35 anos;
- Tabagismo.
Fatores de risco para inserção vasa prévia:
- Placenta localizada no segmento inferior do útero;
- Placenta dividida em seções;
- Gravidez de gémeos;
- Fertilização in vitro (fertilização do óvulo em laboratório e implantação do óvulo no útero).
Fatores de risco para rutura do útero:
- Cesariana numa gravidez anterior;
- Cirurgia ao útero;
- Idade superior a 30 anos;
- Infeçõesdo útero;
- Indução do trabalho de parto;
- Lesões provocadas por fatores externos, como quedas ou acidentes automóveis.
Sangramento no final da gravidez: tratamento
Se houver perda excessiva de sangue, será hidratada. Em casos graves, pode receber transfusões de sangue.
Descolamento prematuro da placenta ou placenta prévia:
- Internamento hospitalar;
- Repouso absoluto no leito;
- Avaliação dos sinais vitais maternos e monitorização cardiofetal;
- Administração de imunoglobulina anti-D;
- Se o sangramento parar, pode ser dada alta hospitalar. Se persistir ou piorar ou numa gravidez de termo (após as 38 semanas), o bebé é retirado. Pode ser necessária uma cesariana. quando o orifício cervical interno está parcial ou totalmente coberto pela placenta.
Vasa prévia:
- Internamento hospitalar;
- Repouso absoluto;
- Avaliação dos sinais vitais maternos e monitorização cardiofetal;
- Hidratação;
- Avaliação do tónus e dinâmica uterina;
- Se diagnosticada antes do início do trabalho de parto, pode ser agendada uma cesariana.
Rutura uterina:
- O bebé é retirado imediatamente por laparotomia, para evitar hemorragias;
- O útero é reparado cirurgicamente;
- Como resulta frequentemente na morte fetal, é dado apoio à família e à grávida.
Sangramento no final da gravidez: sinais de alerta
Qualquer sangramento vaginal durante a gravidez, independentemente da idade gestacional, é considerado um sinal de alerta, exceto quando a perda é mínima.
O sangramento no final da gravidez é especialmente preocupante perante:
- Desmaios ou tonturas;
- Tensão arterial baixa;
- Dor uterina súbita, intensa e localizada;
- Ventre em tábua;
- Alterações morfológicas da placenta que possam comprometer a passagem de nutrientes e oxigénio para o bebé (grau da placenta);
- Hemorragia grave;
- Alteração do ritmo dos batimentos cardíacos fetais.