A superfetação é uma situação considerada extremamente rara. É tão rara que muitos questionam-se se é um mito ou realidade. Neste artigo saberá o que é a superfetação, como acontece e em que situação é mais provável acontecer.
O que é a superfetação?
A superfetação é um evento em que uma mulher grávida, volta a engravidar no espaço de dias ou semanas após a primeira gravidez, passado a estar grávida de gémeos se a primeira gravidez for de 1 feto apenas.
Em termos práticos, vejamos um exemplo. Uma grávida volta a engravidar quando a sua gravidez de 1 feto encontra-se nas 3 semanas. Esta grávida irá assim passar a ter uma gestação de gémeos, com 3 semanas de diferença na idade gestacional. Assim, enquanto um dos fetos gémeos está, por exemplo, na 9ª semana de gestação, o outro encontra-se ainda na 6ª semana.
Esta curiosa e raríssima situação em humanos é caracterizada pela fertilização e implantação de um segundo ovócito no útero, onde se encontra já o resultado de uma conceção anterior. A superfetação não deve ser confundida com a gestação de gémeos pois envolve a conceção de um feto adicional no decorrer de uma gravidez. Com este processo, os dois fetos possuem, pois, idades gestacionais distintas e data provável de parto diferente.
Embora a superfetação seja um evento comum nalguns animais, como é o caso dos peixes, lebres e texugos, em humanos é algo muito raro. Tal é, que até à data os relatos médicos de superfetação não chegam aos 10 casos.
Embora muitos não saibam dizer se a superfetação é um mito ou realidade, sucedeu recentemente um caso que se tornou mediático. Rebecca Roberts concebeu 2 bebés com 3 semanas de intervalo entre ambos. Esta mãe ficou embasbacada quando recebeu a notícia que estava grávida de gémeos. Isto porque em duas ecografias realizadas anteriormente, o ecógrafo tinha, afinal, detetado apenas um feto! Devido a um problema com o cordão umbilical de um dos fetos, estes tiveram que nascer prematuramente por cesariana às 33 semanas de gestação. Ao nascer, um dos pesava 2,097 quilogramas, enquanto o outro pesava apenas 1,105 quilogramas!
Como acontece?
Como vimos acima, a superfetação ocorre quando 2 óvulos, de ciclos menstruais diferentes são fertilizados e implantados no útero. Para tal suceder, é necessário que se verifiquem, simultaneamente, três condições muitíssimo improváveis:
- Ovulação durante uma gravidez em curso – isto é muito raro acontecer porque assim que a gravidez acontece, as hormonas segregadas evitam uma nova ovulação.
- O segundo óvulo tem que ser fertilizado por um espermatozoide – isto é também muito improvável pois assim que a mulher engravida, o colo do útero forma o chamado rolhão mucoso, que evita a passagem de esperma. Mais uma vez, este fenómeno acontece devido às alterações hormonais da gravidez.
- O óvulo fertilizado tem que ser implantado num útero que já aloja uma gravidez – mais uma vez um evento quase impossível já que a implantação do óvulo requer a segregação de certas hormonas. Ora estas hormonas, regra geral, não são segregadas se a mulher já se encontra grávida.
O que pode causar a superfetação?
Os pouquíssimos casos de superfetação relatados no mundo da medicina ocorreram maioritariamente em mulheres submetidas a tratamentos de fertilidade.
No decorrer de uma fertilização in vitro, são transferidos embriões fertilizados para o útero da mulher. Neste caso, a superfetação pode ocorrer se a mulher também ovular naturalmente e o óvulo for fertilizado por esperma, alguns dias a semanas após a inserção daqueles embriões no útero.
Quais os sintomas?
Até à data, não há conhecimento de sintomas específicos associados a este evento tão improvável.
Poderá haver suspeitas de superfetação se, numa ecografia de acompanhamento de uma gravidez gemelar, o obstetra que os fetos têm tamanhos diferentes. Contudo, o facto de os fetos possuírem tamanhos diferentes não é, por si só, sintoma de superfetação.
Existe um outro fenómeno, bem mais comum que causa diferenças no tamanho dos fetos de gémeos. Chama-se crescimento discordante na gestação gemelar. Existem alguns fatores que causam esta complicação. A insuficiência placentária é um deles. Isto sucede se a placenta não conseguir sustentar ambos os fetos, causando uma restrição no crescimento fetal num deles. Outra situação é quando se dá a transfusão feto-fetal que consiste na distribuição desequilibrada de sangue entre ambos os fetos.
O obstetra irá, assim, considerar a possibilidade de superfetação se detetar apenas se os fetos tiverem tamanhos diferentes, mas também se encontrarem em diferentes etapa de desenvolvimento. Mesmo assim, é um fenómeno difícil de detetar pois a diferença de tamanho e de etapa gestacional poderá ser devida a outros fatores que não a superfetação.
Como se dá o parto?
Se a diferença na idade gestacional dos fetos for de uns meros dias, em princípio não deverá causar qualquer problema aos bebés quando estes nascem. Contudo, se a diferença nas idades gestacionais for elevada, deve-se em princípio considerar a idade gestacional do feto mais novo. Isto significa que o parto deverá ser realizado quando este estiver pronto para nascer. Contudo, o feto mais velho não pode ficar no útero além das 41 semanas.
Num caso de superfetação, o parto será provavelmente realizado através de cesariana. Os gémeos irão possivelmente nascer com baixo peso e terem que ficar internados até estarem suficientemente desenvolvidos e fortes.
Referência: Healthline; Research Gate; Very Well Family