Dra. Mónica Brito, diretora-geral da Crioestaminal
A Crioestaminal é atualmente o banco de células estaminais com mais tratamentos realizados em Portugal. A Dra. Mónica Brito, diretora-geral da Crioestaminal destacou o importante papel da comunicação com as famílias sobre o tema da preservação das células estaminais, e explicou como a empresa encara os próximos desafios e objetivos.
Qual a importância da Crioestaminal para os pais/bebés de hoje?
A Crioestaminal tornou-se uma referência na área das células estaminais e da medicina do futuro, quer pela sua experiência enquanto banco de sangue e tecido do cordão umbilical a operar em Portugal desde 2003, quer pelo seu investimento na investigação e desenvolvimento de novas soluções terapêuticas com células estaminais.
As famílias contam com a Crioestaminal no esclarecimento de todas as dúvidas que vão surgindo, no que respeita à colheita e criopreservação do sangue e tecido do cordão umbilical dos seus bebés, e têm na Crioestaminal o apoio que necessitam em caso de situação de doença que possa ser suscetível de tratamento com recurso a células estaminais.
Outro aspeto importante é o de termos um Banco de Células Estaminais dedicado exclusivamente a I&D, isto é, todas as famílias que optem por não guardar para si as células estaminais do cordão umbilical, podem doá-las, sem qualquer custo, à Crioestaminal. As amostras doadas são incluídas nos projetos de investigação que temos em curso e nos desenvolvimentos de novos produtos terapêuticos, por esta via acreditamos contribuir para o desenvolvimento da ciência em Portugal e para o avanço da medicina, colaborando com a descoberta de novas terapias para doenças atualmente sem tratamento ou com opções terapêuticas limitadas.
O que significam estes 19 anos?
Diria que estes 19 anos significam o reconhecimento da importância das células estaminais do cordão umbilical.
Quando iniciamos a atividade em 2003 começava a falar-se em Portugal das células estaminais do sangue do cordão umbilical no tratamento de doenças, com especial relevância para a doação de sangue do cordão umbilical entre irmãos. Nesta altura, existiam cerca de 2000 transplantes realizados em todo o Mundo com sangue do cordão umbilical.
Desde então, o conhecimento sobre as células estaminais do cordão umbilical tornou-se mais vasto, assim como a disponibilidade destas células para transplante em virtude do crescimento dos bancos de tecidos e células por todo o Mundo. Existem hoje mais de 45.000 transplantes realizados com sangue do cordão umbilical e centenas de ensaios clínicos em curso, algo que não acontecia há 19 anos.
O percurso da Crioestaminal acompanhou a evolução da área das células estaminais, contribuímos para 19 tratamentos com células estaminais guardadas no nosso Banco, registamos 4 patentes internacionais com o objetivo de desenvolver novos produtos terapêuticos com base em células estaminais, e mais recentemente, desenvolvemos um medicamento experimental (SLCTmsc02) à base de células estaminais expandidas a partir de amostras de tecido do cordão umbilical, que pode ser utilizado no tratamento de casos mais graves de infeção respiratória aguda e em doenças autoimunes com reduzidas opções terapêuticas.
Quais os principais desafios que a Crioestaminal tem enfrentado?
O principal desafio que enfrentamos na Crioestaminal é tornar o acesso ao serviço de criopreservação das células estaminais do cordão umbilical possível a todas as famílias, garantindo sempre a qualidade do mesmo e a sustentabilidade futura da nossa atividade.
Neste âmbito temos desenvolvido várias opções facilitadoras de acesso ao serviço, de entre as quais saliento a opção de pagamento flexível, o apoio às famílias jovens ou o programa de colheitas dirigidas. Através do pagamento flexível, no ano do nascimento do bebé o compromisso financeiro dos Pais é bastante mais reduzido, quando comparado com o pagamento imediato da totalidade do serviço, e depois nos 15 anos seguintes, no mês do nascimento do bebé os Pais pagam uma pequena quantia pela manutenção do armazenamento das células. Quanto às famílias jovens, com idade inferior a 30 anos, o serviço de criopreservação é pago em 2 momentos – até um dos pais celebrar 30 anos apenas pagam metade do serviço, a partir daí pagam o valor remanescente acrescido da metade que ficou em falta até então. Temos ainda um programa especial de acesso para as famílias que têm histórico de situações de doença tratável com células estaminais do sangue do cordão umbilical.
Qual o momento mais marcante para si/para a Crioestaminal ao longo destes 19 anos?
Sem dúvida que os momentos mais marcantes foram as libertações de células estaminais do nosso banco para a realização de tratamentos que representam a cura e/ou a melhoria da qualidade de vida das nossas crianças e famílias.
O primeiro transplante realizado em Portugal, com células estaminais do sangue do cordão umbilical guardadas num banco familiar, teve lugar no IPO do Porto, em 2007, numa criança de 14 meses com Imunodeficiência Combinada Severa, uma doença rara e fatal quando não tratada, tendo-se recorrido às células estaminais do irmão mais velho, criopreservadas aquando do nascimento, na Crioestaminal. A criança ficou totalmente curada. Seguiram-se outras utilizações de células estaminais do sangue do cordão umbilical: um caso de leucemia mieloide aguda (Hospital Niño Jesus, em Espanha) e oito utilizações no âmbito da paralisia cerebral (sete nos EUA e uma em Espanha), todas elas com as células estaminais do próprio que estavam guardadas no nosso Banco. Recentemente, libertamos mais 2 amostras para tratamentos no âmbito de ensaios clínicos para patologias do espectro autista, realizados na Universidade de Duke, nos EUA. Nos casos de crianças com paralisia cerebral e com síndrome do espetro autista, os pais e os prestadores de cuidados, identificaram melhorias após a infusão de sangue do cordão umbilical, sendo que nestas patologias não podemos falar de cura propriamente dita e as melhorias observadas são muito variáveis consoante a condição clínica prévia de cada criança. Mais recentemente, foi utilizada uma amostra de sangue do cordão umbilical do próprio dador, no âmbito de uma anemia aplástica grave, o transplante aconteceu em abril de 2019 no IPO de Lisboa e até hoje a doença encontra-se em remissão.
Com que sentimento celebra este aniversário da Crioestaminal?
Com orgulho do percurso que a Crioestaminal tem tido e com uma grande expectativa no futuro. Temos contado com a dedicação e o rigor empreendido por todos os envolvidos com o quotidiano da Crioestaminal, desde os seus fundadores, colaboradores, famílias, fornecedores, entidades reguladoras, parceiros institucionais entre tantos outros que nos têm possibilitado cumprir o nosso propósito. É do compromisso de todos que resultam os 19 tratamentos efetuados em 11 crianças com as células estaminais que guardamos, e que resultarão certamente muitos mais momentos marcantes no percurso da Crioestaminal.
Como vê a Crioestaminal no futuro?
A Crioestaminal continuará a ser uma organização comprometida com o apoio aos futuros pais na fase mais importante das suas vidas que é a gravidez e a chegada de um bebé, quer através do acesso ao serviço de criopreservação do cordão umbilical colhido à nascença, quer através de diversas iniciativas que pretendem acompanhar e guiar as famílias portuguesas neste momento especial.
O desenvolvimento da área de novas terapias celulares será o outro grande foco da Crioestaminal, alinhado com o nosso comprometimento com a medicina personalizada do futuro e de modo a que possamos, desta forma, dar acesso a cada vez mais opções de tratamento com células estaminais, algo que sabemos ser de extrema importância para os Pais que esperam agora pelo nascimento de um filho, mas também para a sociedade em geral.
Mãe e empresária de sucesso. Qual o segredo para o sucesso nestes 2 papéis? Complementam-se?
Acredito que é cada vez mais natural a coexistência de uma carreira profissional com a maternidade, temos cada vez mais exemplos destes em Portugal. Naturalmente que é desafiante, e tem feito com que o 1º filho surja tendencialmente mais tarde do que no passado, mas é possível e não deverá ser para as futuras mães uma questão. Não posso deixar de dizer que o meu percurso foi facilitado pelo apoio familiar que tive, sobretudo quando os meus filhos eram mais pequenos, e pela própria Crioestaminal que tem mantido uma política de flexibilidade e de apoio ao crescimento profissional dos seus colaboradores que são maioritariamente mulheres. Em qualquer circunstância, mas sobretudo em cargos de direção, é fundamental, não só para as Mães como também para os Pais, conseguirmos distinguir os momentos dedicados à atividade profissional e os momentos dedicados à família e fazermos um esforço para que ambos não se misturem ou se sobreponham.
Que mensagem gostava de deixar enquanto diretora da Crioestaminal e mãe?
Os nossos filhos são o nosso bem mais precioso, mas também uma fonte acrescida de ansiedades, como tal quero deixar uma mensagem de confiança e de tranquilidade a todas as mães e pais, continuem a acreditar em vós, nas vossas capacidades e convicções, confiem na evolução da ciência e da medicina e contem com a Crioestaminal para esta evolução.