Um estudo francês analisou, entre março e maio deste ano, 71 embalagens de protetores solares para crianças e descobriu substâncias nocivas tanto para a saúde como para o ambiente.
Protetores solares para crianças novamente sob investigação
Duas associações ambientalistas e defensoras dos direitos humanos realizaram uma análise à composição de vários protetores solares para crianças nas mais diversas formas – sprays, loções, leites ou mousses. O resultado dessa análise foi a descoberta de que todos eles, sem exceção, continham substâncias nocivas, tendo uma delas gerado uma maior preocupação junto dos investigadores: os modificadores endócrinos.
Após a descoberta, procederam à classificação das substâncias de risco encontradas em três diferentes níveis: extremamente preocupantes, muito preocupantes e preocupantes.
No final da investigação, foi possível atestar que todos os produtos contêm modificadores endócrinos e “pelo menos outras dez substâncias problemáticas”. Além disso, cinco ingredientes comuns a todos os protetores são classificados como “extremamente preocupantes”. Em três protetores, incluindo um que se intitulava como biológico, foram encontradas nanopartículas não indicadas no rótulo da embalagem, algo obrigatório pelas directivas comunitárias.
Susana Fonseca, da associação ambientalista Zero, comentou, em entrevista ao Público, os resultados do estudo, ressalvando que Portugal deve seguir os passos do país vizinho e prestar mais atenção a estes produtos: “É o primeiro estudo que conheço que pega nas marcas de uma forma muito clara e como foi feito em França estamos a falar de produtos que na sua generalidade também são comercializados cá. Este é um assunto que tem de começar a ser mais falado, porque são produtos dirigidos a crianças, bebés, grupos mais vulneráveis, e que são de venda alargada, mas têm desreguladores endócrinos ou outros produtos que podem afectar diferentes órgãos. Precisamos de perceber que não são substâncias inócuas.”
Também Conceição Calhau, especialista em bioquímica da Faculdade de Medicina da Universidade Nova de Lisboa, comenta o assunto, aconselhando a, em caso de dúvida, não fazer uso destes produtos.
“A presença de alteradores endócrinos é um tema sobre o qual não se tem falado muito, mas que tem consequências para a saúde, ao nível da obesidade, da resistência à insulina, das doenças cardiovasculares ou do cancro. Há associações completamente robustas entre mulheres que usam mais cosméticos e o cancro da mama”, explicou.
Esta nova polémica surge após, o ano passado, várias marcas de protetores solares terem sido alvo de testes e retirados do mercado após um estudo ter descoberto que o SPF (sigla para Sun Protector Fator, Fator de Proteção Solar em português) indicado na embalagem não correspondia à proteção real.