Artur Carvalho, o médico obstetra que realizou ecografias pré-natal ao bebé que nasceu sem rosto, não detetou malformações graves, quando todas poderiam ter sido detetadas.
Como poderão, então, ter as malformações graves do bebé Rodrigo passado despercebidas? Não existem normas definidas relativamente aos profissionais de saúde habilitados a fazerem ecografias pré-natal. Isto deixa a possibilidade de estas serem realizadas por um profissional sem formação adequada para o efeito.
Aconselhamos, assim, que quando escolher um profissional de saúde para as três ecografias mais importantes da gravidez (a do primeiro, segundo e terceiro trimestres), se certifique que o mesmo possui a formação adequada para interpretar as mesmas.
- Primeira ecografia da gravidez
- Segunda ecografia da gravidez ou ecografia morfológica
- Terceira ecografia da gravidez
O médico obstetra encontra-se agora suspenso durante seis meses de realizar ecografias na gravidez. Durante este período a Ordem dos Médicos irá analisar vários processos instaurados contra o médico.
A informação foi adiantada à agência Lusa pelo bastonário da Ordem dos Médicos, segundo noticiou o Jornal de Notícias.
A posição do bastonário da Ordem dos Médicos
Segundo, Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos, Artur Carvalho foi contactado na sequência do alarme social provocado pelas notícias das últimas semanas referentes ao nascimento de um bebé sem rosto. Efetivamente, o bebé Rodrigo nasceu em Setúbal, a 7 de outubro passado, sem nariz, olhos e parte do crânio.
Após a notícia do nascimento do bebé sem rosto, vários outros casos que envolveram Artur Carvalho vieram ao lume.
“Perante o alarme social causado pelas notícias dos últimos dias e tendo em consideração que os prazos processuais nem sempre vão ao encontro da urgência exigida nestas situações, tomei a iniciativa de contactar diretamente o Dr. Artur Carvalho. Na sequência dessa conversa, o médico comunicou-me a sua decisão de suspender no serviço privado e público a realização de qualquer tipo de ecografia obstétrica, até que os processos sejam concluídos pelo Conselho Disciplinar Regional do Sul”, declarou Miguel Guimarães.
“As ecografias pré-natal com Artur Carvalho tinham a duração de “apenas cinco minutos”.
Médico envolvido em pelo menos outros cinco casos de nascimentos de bebés com malformações graves
O Conselho Disciplinar do Sul da Ordem dos Médicos tem em mãos cinco processos pendentes de queixas sobre o médico Artur Carvalho. Todas as malformações que apresentamos abaixo poderiam ter sido identificadas nas ecografias efetuadas durante a gravidez. Um destes processos data já de 2013.
Bruno, 21 anos: nasceu com espinha bífida
As ecografias pré-natal com Artur Carvalho tinham a duração de “apenas cinco minutos”, disse a mãe de Bruno. Atualmente com 21 anos, Bruno nasceu com espinha bífida, uma anomalia congénita do sistema nervoso que se desenvolve nos dois primeiros meses de gestação. Como consequência, o jovem já foi submetido a 15 cirurgias. Bruno tem uma incapacidade de 80%, sofre de incontinência e desloca-se com canadianas.
O médico obstetra não detetou malformações graves em Diana. A menina nasceu com duas vaginas, dois retos, apenas um rim e espinha bífida.
Luana, 8 anos: nasceu sem queixo, pernas viradas ao contrário, dedos dos pés colados e lesões cerebrais graves
Não fala. Não anda. Está totalmente dependente. Presentemente com oito anos de idade, Luana já foi submetida a cinco cirurgias. A mãe de Luana, Laura Afonso, foi seguida por Artur Carvalho durante a gravidez que resultou no nascimento da sua filha. Laura Afonso realizou cinco ecografias pré-natal com o médico obstetra. Este não detetou malformações graves em nenhuma. Laura Afonso submeteu uma queixa contra Artur Carvalho, mas esta foi arquivada pelo Ministério Púbico sem o médico ter sido ouvido.
Sara, 6 anos: nasceu com síndrome do coração esquerdo hipoplásico
A síndrome do coração esquerdo hipoplásico é uma doença rara. A doença causa o não-desenvolvimento completo do lado esquerdo do coração. A Sara, atualmente com seis anos, nasceu com esta síndrome. O problema deveria ter sido detetado numa das ecografias de gravidez que envolveram Artur Carvalho. A família indicou que a pequena Sara já sofreu “várias intervenções, numa das quais teve um AVC, ficando com a parte motora do lado esquerdo afetada”.
Diana, 3 anos: nasceu com duas vaginas, dois retos, apenas um rim e espinha bífida
Com apenas três anos de idade, Diana foi já operada cinco vezes, anunciou o Jornal Público na sua versão online. A gravidez da mãe foi também seguida por Artur Carvalho. Mais uma vez, o médico obstetra não detetou malformações graves em Diana. A menina nasceu com duas vaginas, dois retos, apenas um rim e espinha bífida. Os primeiros dois anos de vida de Diana foram praticamente passados no hospital. “Fazia muitas infeções urinárias, depois eram as operações”, conta a mãe, Vanessa Ferreira. A mãe tenta lutar para que a filha tenha qualidade de vida e sente revolta contra Artur Carvalho. Vanessa pensou em processar o médico. Contudo, a advogada que consultou disse-lhe que apenas iria perder tempo pois provavelmente não ganharia a causa.
A suspensão preventiva só pode ocorrer caso haja indícios da prática de infração disciplinar correspondendo às sanções mais graves previstas: suspensão até 10 anos ou expulsão.
“Aquele homem não devia exercer”, diz Vanessa, acrescentando que nas duas primeiras ecografias o médico disse que estava “tudo bem”. “Foi muito antipático e fez as ecografias de forma muito rápida. Lembro-me de até ter perguntado à minha mãe se aquilo era mesmo assim, se era normal”, conta a jovem mãe.
Menina que nasceu morta devido a cordão umbilical à volta do pescoço
Cíntia Ribeiro também foi seguida por Artur Carvalho, divulgou ainda o Jornal Público. Em 2012, após nove meses de gestação, deu à luz uma menina. Nasceu morta porque tinha o cordão umbilical à volta do pescoço. Em 2015, Cíntia teve de abortar às 24 semanas quando descobriu que o seu bebé, um menino, tinha malformações que Artur Carvalho não detetou. A mãe diz ter apresentado queixa contra o médico e que até hoje a Ordem dos Médicos nada lhe disse.
Porquê uma suspensão preventiva?
Segundo adiantou o Diário de Notícias, a suspensão preventiva implica a completa proibição de trabalhar no setor público e privado. A suspensão preventiva só pode ocorrer caso haja indícios da prática de infração disciplinar correspondendo às sanções mais graves previstas: suspensão até 10 anos ou expulsão.
O presidente do Conselho Disciplinar do Sul da Ordem dos Médicos, Carlos Pereira Alves, afirmou que “vamos apreciar, com caráter de urgência, os cinco processos pendentes (…), mas não vamos apreciar este último caso [do bebé de Setúbal que nasceu com malformações], porque ainda não nos chegou nada. E não podemos avaliar e decidir com base naquilo que ouvimos na comunicação social”.