Meningite bacteriana: o que é, sintomas e prognóstico. Ao ler a expressão “meningite bacteriana” poderá estar a perguntar-se se não há apenas um tipo de meningite. Realmente não há. A meningite pode, efetivamente, ser de origem viral ou bacteriana.
Embora este artigo seja dedicado exclusivamente à meningite bacteriana, vamos primeiramente saber o que é a meningite em geral e a diferença entre os dois tipos de meningite.
O que é a meningite e que estirpes há?
A meningite é uma doença infeciosa que causa inflamação das membranas que cobrem o cérebro e a medula espinal (meninges). É a principal causa de febre associada a sinais e sintomas de doença do sistema nervoso central na criança. Devido à sua gravidade, o diagnóstico precoce é essencial para o tratamento.
Existem duas estirpes (etiologias) de meningite mais frequentes:
Meningite viral: é a mais frequente e tende a ser menos grave; não há tratamento específico pois este tipo de meningite é autolimitado, ou seja, tem um começo, meio e fim, podendo resolver-se sem tratamento.
Meningite bacteriana: menos frequente mas grave. Requer uma deteção e tratamento na fase inicial para evitar um desfecho fatal e prevenir complicações futuras.
Mais raramente, podem ocorrer meningites fúngicas, causadas pela inalação de fungos ou afetar doentes com diabetes, cancro ou portadores do vírus VIH/SIDA. Existem ainda meningites causadas por parasitas, mas sem relevância em Portugal.
Meningite bacteriana: o que é?
A meningite bacteriana é uma doença muito grave, podendo ser mesmo fatal, e constitui uma urgência médica. Pode ocorrer em qualquer idade, incluindo recém-nascidos.
80% dos casos desta doença nos recém-nascidos são causados pelas bactérias estreptococo do grupo B, bacilos gram negativos (sobretudo escherichia coli), staphylococcus aureus, listeria monocytogenes e enterococos. Nos recém-nascidos, a meningite bacteriana pode ocorrer devido a uma contaminação por bactérias presentes no canal vaginal da mãe durante o parto.
Quando ocorre nas crianças maiores, a meningite bacteriana é normalmente causada, em 50% dos casos, pela bactéria Haemophilus influenzae b. 25% dos casos da doença nesta faixa etária são causados pela bactéria Neissiria meningitidis (conhecida como Meningococo) e 15% pela Streptococcus pneumoniae (conhecida como Pneumococo).
Finalmente. nos jovens e adulto, esta doença é causada pela Pneumococo em 50% dos casos, pela Meningococo em 20 a 30% dos casos e pela Haemophilus influenza b em menos de 5% dos casos.
Quais são os sintomas?
Os sintomas da doença poderão variar de acordo com a idade do doente.
Recém-nascidos e bebés
Em recém-nascidos e bebés, os sintomas precoces da meningite bacteriana parecem indicar geralmente que o bebé não está vem. Os sintomas poderão, assim, passar por:
- Temperatura corporal alta ou baixa
- Letargia
- Vómitos
- Choro excessivo ou agudo atípico no bebé
- Inquietação e irritabilidade
- Redução ou recusa das mamadas
- Mastigação involuntária, olhar em direções diferentes
- Fontanela saliente
- Convulsões
Crianças maiores, jovens e adultos
Nas crianças maiores, jovens e adultos, os primeiros sintomas da doença pioram lentamente durante 3 a 5 dias. Os doentes poderão manifestar os seguintes sintomas:
- Febre que não desce com antipiréticos
- Dor de cabeça forte
- Mal-estar
- Pescoço rígido
- Prostração
- Irritabilidade
- Náuseas e vómitos
- Confusão
- Dificuldade em olhar para a luz
- Convulsões, problemas de respiração
O pescoço rígido devido à meningite poderá causar dor intensa se o doente tentar encostar o queixo ao peito. A criança ou adulto poderá inclusivamente não conseguir fazê-lo. Esta rigidez no pescoço não afeta, contudo, todos os pacientes.
A maioria dos recém-nascidos e bebés não apresenta pescoço rígido (ao contrário das crianças e adultos).
A meningite bacteriana é infeciosa?
Sim. Esta estirpe de meningite transmite-se através do contacto direto com gotículas e secreções nasais provenientes da tosse, espirros, beijos e até proximidade física com pessoas infetadas. Por isso, é preciso ter algum cuidado antes de se dar beijos na cara e nas mãos das crianças.
O tempo de incubação da doença depende da bactéria que a tenha causado. Pode variar entre 1 a 10 dias. Normalmente serão menos de 5 dias de incubação.
Em geral, o doente deixa de poder contagiar pessoas saudáveis 24 horas após o início do tratamento (isto quando é eficaz).
Como é diagnosticada?
O diagnóstico da meningite bacteriana poderá incluir o seguinte:
- Exame físico(procurar rigidez do pescoço, por exemplo)
- Historial clínico
- Exames:
- Punção lombar (muito importante pois analisa o líquido cefalorraquidiano que circula sob as meninges)
- Análises ao sangue
Qual é o tratamento?
Esta doença normalmente exige internamento hospitalar, de preferência nos cuidados intensivos. O doente deve ser isolado e vigiado continuamente durante os primeiros dias da doença.
Tratando-se de uma urgência médica, a meningite bacteriana tem que ser tratada de imediato. Neste caso, o objetivo da equipa médica é literalmente manter o doente vivo e conter a infeção.
Uma criança, por exemplo, pode ficar com sequelas irreversíveis devido a esta doença. Calcula-se que seja o caso de cerca de 10% dos sobreviventes. Contudo, este tipo de meningite pode ser fatal, podendo o doente morrer no espaço de horas devido à doença.
O tratamento consiste em antibióticos (poderão ser mais de um), dependendo da bactéria que está a causar a infeção. O doente receberá ainda outros medicamentos, se a infeção tiver atingido outros órgãos. Este tratamento poderá durar entre 1 e 3 semanas.
Que complicações pode causar?
As complicações que a meningite bacteriana pode causar são bastantes e ser imediatas ou surgir numa altura posterior. Entre as complicações possíveis incluem-se:
Complicações imediatas:
- Edema cerebral
- Choque
- Paralisias dos nervos cranianos e não só
- Convulsões
- Alterações na coagulação do sangue
- Alterações no equilíbrio de água e sais nos fluídos corporais
- Hidrocefalia
- Abcesso cerebral
- Problemas cardíacos
- Problemas pulmonares
Complicações tardias
- Perda de audição neurossensorial
- Perturbação do desenvolvimento psicomotor, perturbação da linguagem e problemas de comportamento
- Hidrocefalia
- Epilepsia
Como se previne a meningite bacteriana?
Felizmente, existem vacinas que previnem ou diminuem drasticamente os casos de meningite bacteriana e que estão contempladas pelo Plano Nacional de Vacinação.
As vacinas que se seguem são uma forma simples, segura e eficaz na prevenção de algumas meningites:
- BCG (Vacina contra a tuberculose com o bacilo de Calmette e Guérin)
- Pneumocócica,
- Meningocócica (meningococo tipo C),
- Anti-haemophilus influenzae tipo b,
- Vacina tríplice contra o sarampo, parotidite (papeira) e rubéola (VASPR)