Existe muita informação sobre os estilos parentais e a forma como cada um afeta, supostamente, o desenvolvimento da personalidade das crianças.
Não deixando de ter presente que há várias formas igualmente válidas de educar as crianças e que o mesmo estilo parental pode ter efeitos diversos no comportamento das crianças, sem determinismos nem receitas absolutas e comprovadas, deixamos um resumo das principais características definidas pelos especialistas para cada um dos estilos parentais.
Provavelmente, irá reconhecer-se um pouco em cada uma deles porque, dependendo das circunstâncias, somos capazes de adotar um ou outro estilo sem nos conseguirmos classificar num só estilo. Vários estudos apontam para a conjugação de vários estilos, para uma convergência e não para um único modelo comportamental.
Mas se quer mesmo saber qual é o seu estilo parental, porque não pergunta ao seu filho? Será que o seu filho a vê da mesma forma como se vê a si própria? Pode ser que se surpreenda com a resposta!
Nos finais dos anos 60, Diana Baumrind descreveu três estilos de educação: autoritário, autorizado e permissivo. Segundo esta psicóloga norte-americana, o estilo autorizado será o ideal porque representa o meio-termo entre os estilos autoritário e permissivo. Segundo a autora:
Estilo autoritário (authoritarian)
Os pais autoritários:
- Definem um padrão de comportamento que desejam para o filho e tentam moldar, controlar e avaliar o seu comportamento e atitudes segundo o padrão estabelecido;
- Valorizam a obediência no sentido do cumprimento do padrão comportamental que consideram adequado;
- São pouco flexíveis a mudanças no padrão comportamental que consideram ser o correto e cujos princípios servem de orientação no modo como educam e disciplinam a criança;
- Quando a criança não segue o padrão adequado, encarregam-se de a colocar no caminho que consideram correto recorrendo à força e ao castigo;
- Delegam tarefas domésticas na criança como forma de a responsabilizar;
- Valorizam o esforço do trabalho;
- Valorizam a ordem e a tradição.
Estilo autorizado (authoritative)
Os pais autorizados:
- Procuram orientar as atividades da criança de modo racional;
- Comportam-se de forma positiva, aceitadora e não punitiva;
- Promovem o diálogo e a troca de opiniões;
- Estabelecem padrões de comportamento, explicam as regras e o que as motiva;
- Quando a criança se recusa a obedecer às regras tentam compreender as motivações da criança;
- Valorizam a independência e o livre arbítrio do filho;
- São firmes no cumprimento dos padrões comportamentais que definem mas não castigam a criança quando esta não as cumpre procurando, antes, perceber o motivo pelo qual se recusa a obedecer;
- São empáticos com os sentimentos e pontos de vista da criança e consideram-nos quando fazem a avaliação do comportamento do filho;
- Valorizam as qualidades do filho, reforçando-as positivamente para incentivar a repetição dos comportamentos adequados;
- Definem rotinas e, com isso, procuram, modelar o comportamento e os hábitos da criança.
Estilo permissivo (permissive)
Os pais permissivos:
- Comportam-se de forma não punitiva, aceitadora e positiva perante os impulsos, os desejos e as ações da criança;
- Definem e explicam as regras da família à criança;
- Evitam controlar o comportamento do filho;
- Envolvem a opinião do filho na tomada de decisão;
- Deixam a criança desenvolver as suas atividades sem interferirem;
- São pouco exigentes quanto à colaboração do filho na lide doméstica;
- Não se apresentam como um modelo de comportamento a seguir pela criança;
- Não incentivam a criança a obedecer a regras externas;
- Usam a razão e a manipulação para alcançar os seus objetivos mas não a imposição.
Após vários estudos sobre o tema e a definição e aplicação de escalas para avaliação dos estilos parentais, concluiu-se que a classificação de Diana Baumrind era insuficiente para abarcar todas as esferas dos diversos estilos e comportamentos parentais.
Mesmo que uma mãe/pai não se considere autoritário, há momentos em que usa a força para demonstrar ao seu filho qual o comportamento que considera mais adequado face a determinada situação. Por exemplo, se a criança resolve atravessar a rua de repente, sem olhar ou sem respeitar os sinais de trânsito, é provável que os pais o repreendam e segurem firmemente.
Portanto, não permitir que a criança não faça determinadas coisas não torna os pais autoritários.
Em 1983, Eleanor Maccoby e Jonh Martin alteraram esta classificação acrescentando um quarto estilo parental. Os pais deixaram de ser descritos com base num eixo linear único mas num plano definido por dois eixos:
- a exigência (a medida em que os pais esperam do seu filho um comportamento maduro e responsável) e a
- responsividade (a medida em que os pais respondem às necessidades da criança e demonstram afeto).
Nesta nova classificação, os pais podem ser muito exigentes mas responsivos (autorizados) ou muito exigentes mas não responsivos (autoritários), sendo o efeito sobre a criança muito diferente.
Nesta classificação:
- Os pais autoritários são muitos exigentes e pouco responsivos;
- Os pais autorizados são muito exigentes e muito responsivos (impõem regras e limites ao comportamento mas preocupam-se com as necessidades da criança);
- Os pais permissivos foram divididos em dois grupos: os pais indulgentes, pouco exigentes, mas muito responsivos, e os pais negligentes, pouco exigentes e pouco responsivos.
Vários estudos concluem que a maior parte dos pais não cabe numa só classificação. Antes adotam vários estilos de educação que se ajustam a cada circunstância.
Podem ser afetuosos e brincar com os filhos, defenderem a amamentação, dar colo, não deixar o bebé chorar até adormecer mas serem, também, exigentes no respeito de certos valores e rigorosos na imposição regras e rotinas como respeitar a hora de ir para cama, ter boas maneiras à mesa, estudar, respeitar os outros ou não bater em outras crianças.
A grande maioria dos pais preocupam-se em preparar a criança para o tipo de sociedade onde vai crescer e onde terá que vingar para ser uma pessoa realizada e feliz. Por isso, o estilo parental também varia de acordo com a classe social da família, da cultura e tradições de cada país e ao longo do tempo.
Os vários autores também não são concordantes quanto à influência no comportamento e destino da criança segundo um ou outro estilo de educação dos pais.
Contudo, há valores que se destacam como considerar os interesses da criança, dar afeto, saber ouvir e considerar a sua opinião, sustentar as ordens com argumentos que a criança consiga entender, dispensar gritos e ameaças como forma de disciplinar e saber dizer “não” na altura certa, sem sentimentos de culpa.
No fundo, trata-se de saber educar com amor, carinho e respeito.
Bibliografia: “Crescer juntos – Da infância à adolescência com carinho e respeito“, Carlos González, 2013