Pode ser uma dor de cabeça lidar com crianças que não querem comer, mas existem estratégias para a minimizar e ajudar a pôr o seu filho a comer de tudo!
“Lá está ele com as esquisitices!” ou “parece um pisco a comer!” são provavelmente frases frequentes na linguagem parental. Com mais ou menos neologismos ou de gíria, a realidade é uma: expressam uma preocupação bastante frequente.
Efetivamente, ver o nosso filho a brincar com a comida em vez de a comer, pode irritar nas primeiras vezes que o faz. Mas se ele repete este comportamento com frequência, acabará por preocupar. Tentar todas as estratégias para o convencer a comer e não resultarem, cansa. E passar horas à mesa em autênticas “guerras frias”, à espera que ele toque no prato que já voltou ao micro-ondas n vezes, bem… desespera!
Parece uma guerra inglória e perdida. Aliás, se antes o seu filho comia de tudo, porque deixou de o fazer?
Mais uma fase normal do desenvolvimento da criança
Na verdade, esta é mais uma fase do desenvolvimento da criança. Em primeiro lugar, salvo se for um problema alimentar clinicamente diagnosticado, descanse.
Ser problemático com a comida a partir dos 2 ou 3 anos de idade é normal. O segredo está numa gestão cuidada dessa fase, pois evitará que se torne um problema sério.
Segundo, tudo o que é novidade poderá ser um fator de stress para o seu filho. As crianças gostam de saber o que as espera.
Provavelmente para si, experimentar um sabor desconhecido poderá ser motivo de interesse. No entanto, para o seu filho, ver um alimento desconhecido no prato poderá causar-lhe stress, precisamente por ser desconhecido. E por isso ouvimos tantas vezes as crianças proferirem o clássico “não gosto”, quando nem sequer experimentaram a novidade gastronómica.
Finalmente, muitos pais, na sua (bem-intencionada) tentativa de convencer os filhos a comerem, acabam por ficar stressados e frustrados. Estes sentimentos são, contudo, transmitidos à criança, e acabam por torná-la também stressada, piorando a situação.
Se o seu filho está a passar por esta fase, poderá já ter tentado muitas estratégias para o convencer a comer, mas sem sucesso. Se se enquadra nessa situação, continue a ler. Deixamos-lhe algumas estratégias que poderão ajudar o seu filho a ultrapassar tranquilamente esta fase e a si a geri-la pacificamente.
Estipule horários para as refeições e cumpra-os
Definir horários para as refeições principais e refeições ligeiras, e mantê-los, ajuda a regular o apetite das crianças. Os horários definidos ajudam ainda a proporcionar tranquilidade no que diz respeito às refeições.
Outro fator importante é estipular um período de duração da refeição. Qual é o pai que nunca desesperou a fazer “finca-pé” com o filho pois ele recusa-se a comer a salada? E passa meia-hora, três quartos de hora…
Dar 30 minutos para o almoço, por exemplo, é bastante razoável. O facto de o seu filho saber que após aquele período de tempo o prato é-lhe retirado, poderá motivá-la a apressar-se. Ganha a criança e ganham os pais.
Reúna toda a família à mesa para as refeições
Claro que reunir a família à mesa a todas as refeições não será possível para a maioria. No entanto, reunir todos ao jantar, diariamente, será provavelmente viável para a maioria das famílias.
As crianças aprendem através de modelos. Se o seu filho o observar a comer os seus brócolos com satisfação, a possibilidade de ele também o fazer é bem maior. Pode também aproveitar para o expor a uma grande variedade de alimentos, sabores e texturas. O mesmo se aplica ao uso de utensílios de refeição e comportamentos à mesa.
Finalmente, passar uns momentos em família a contarem como correu o dia, a ouvir as preocupações e anseios dos miúdos, é extremamente benéfico.
Envolva o seu filho na preparação e confeção das refeições
Se envolver o seu filho na preparação e confeção das refeições, irá motivá-lo para depois provar o que ajudou a preparar. E como as crianças não gostam muito do desconhecido, ao ajudarem na preparação das refeições, saberão de antemão o que vão consumir.
Dependendo da idade da criança, poderá por os mais pequeninos a colocar o pão no cesto, a misturar o tempero na salada, os mais velhos a cortarem a fruta, etc.
Ao ajudarem na preparação das refeições, as crianças sentem também, que estão em maior controlo.
A variedade de alimentos é fundamental
A exposição a uma enorme variedade de sabores, texturas, formatos e cores é muito importante. Quando o seu filho começar a comer alimentos sólidos, ofereça-lhe à mão brócolos, pedaços de pera, palitos de cenoura e outros. Isto é importante porque estará a deixá-lo explorar o alimento com os olhos e a mão e, quem sabe, e experimentá-lo!
Se o seu objetivo é que o seu filho coma de tudo e aceite novos alimentos sem grande hesitação, deverá expô-lo, desde cedo, a uma variedade alimentar.
Não se esqueça que poderá ter que fazer várias tentativas com um mesmo alimento até ao seu filho o decidir experimentar. O simples facto de ele poder interagir com o alimento, mesmo que não o prove, aumenta a possibilidade de o experimentar.
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Escolha 3 ou 4 tipos de alimentos para a refeição, incluindo um que o seu filho já goste
Mais uma vez, estamos a sublinhar a importância da variedade. Procure selecionar umas 3 ou 4 escolhas para uma refeição, uma das quais seja seguramente do agrado do seu filho.
Ao preparar uma salada de fruta, por exemplo, poderá por quivi (este como novidade) e banana (a escolha segura). Ao ver a variedade estranha, juntamente com a variedade familiar, aliviará o nervosismo de experimentar algo novo. A variedade confere também um maior equilíbrio à refeição.
Ponha um prato vazio ao lado do prato de comida
Não, o prato vazio, ou taça se preferir, não é para por o pão ou a entrada. Parece estranho? Nada disso. O prato vazio serve para o seu filho colocar os alimentos que não lhe tenham agradado. Ao saber que se não gostar do novo alimento, pode colocá-lo no prato vazio, ficará mais encorajado a experimentá-lo.
Outra alternativa, se preferir, será a criança por o alimento que não gosta nos pratos dos pais. Eu adoro rúcula e ponho-a na salada. A minha filha não aprecia, mas deixo que ponha as folhas que encontra no seu prato no meu. Com esta estratégia, acaba sempre por comer algumas folhas misturadas com o resto da salada.
Ofereça ao seu filho autonomia total na hora das refeições
Quando a minha filha tinha 1 ano de idade, a pediatra disse-me para lhe dar a colher para a mão à hora da refeição. Disse também para preparar a vassoura e esfregona pois haveria um chão a limpar no fim. Foi com enorme ceticismo que o fiz, confesso. Fiquei boquiaberta quando ela comeu tudo, com enorme satisfação. E assim foi, desde esse dia.
Ainda sou eu quem lhe corta o bife e tira as espinhas à sua porção de peixe. Por vezes, ela também me pede ajuda, mas sabe que pode contar comigo. Contudo, a minha filha sabe que tem o controlo de experimentar os alimentos ao seu próprio ritmo. E isso é muito importante.
Finalmente: as refeições devem ser um motivo de alegria
Ao tentar que o ambiente à mesa seja animado e mesmo divertido, o stress de ter que comer ficará aliviado para o seu filho.
Adicionalmente, ver um alimento desconhecido no prato poderá até deixar de ser um motivo de nervosismo para a criança. Se aplicar as estratégias anteriores e criar um ambiente de alegria e descontração, poderá minimizar o problema da rejeição de alimentos no seu filho!