Com o regresso às aulas, muito se fala – e bem – da importância de estabelecer rotinas, dos métodos de estudo, de aprender coisas novas… mas esquecemo-nos muitas vezes de uma coisa: as crianças continuam a ser crianças, e é imperativo que continuem a ter, todos os dias, tempo livre destinado à brincadeira.
Porém, brincar não é somente ver televisão, jogar computador ou descobrir novas funcionalidades do tablet ou do telemóvel. Brincar é ter a oportunidade de criar, explorar, inventar e, acima de tudo, é uma oportunidade única do desenvolvimento.
10 Benefícios da brincadeira
1. Promove o desenvolvimento integral
As diferentes brincadeiras, sejam elas mais ou menos orientadas, de carácter mais físico (como correr, saltar) ou que exigem motricidade mais fina (cortar, desenhar, pintar, construir), estimulam diferentes áreas do desenvolvimento: do cognitivo ao emocional, sem esquecer o psicomotor ou a linguagem, todos saem beneficiados e estimulam a criança a progredir na direcção certa.
2. Permite o auto-conhecimento
Brincar permite à criança não apenas conhecer o seu corpo e a forma como o pode utilizar para tirar partido nas brincadeiras (e noutras actividades), como também lhe permite conhecer gostos, afinidades e preferências.
Este cultivo do auto-conhecimento vai gerar, posteriormente, níveis de auto-confiança e de auto-estima mais adaptativos. Permite-lhe, ainda, reconhecer os seus pontos fortes e fracos, as suas potencialidades e os seus limites.
3. Estimula competências
Brincar ajuda a trabalhar aspectos fundamentais e transversais para toda a vida, como é o caso da comunicação (verbal e não verbal), a gestão de conflitos e a capacidade de os resolver, com recurso à negociação. Permite também desenvolver o trabalho em equipa (quando as brincadeiras incluem outras crianças) e a cooperação, bem como o auto-controlo e a capacidade de abdicar das próprias ideias e preferências em prol da decisão colectiva.
4. Gera resiliência
Nas brincadeiras, nem sempre se ganham as competições, nem seguem as nossas ideias, nem tudo funciona bem e, como seria de esperar, as crianças sentem-se frustradas com isso. A forma como a criança procura ultrapassar essa frustração e desilusões, de forma positiva, chama-se resiliência. Se pensarmos, é uma competência fundamental em todas as áreas da nossa vida, e que nos permite continuar a procurar alcançar objectivos apesar das adversidades.
5. Melhora a atenção e a concentração
Numa época onde nunca se falou tanto de hiperatividade e/ou défice de atenção (ou ambos, na perturbação de hiperatividade e défice de atenção)e onde o recurso à medicação atinge níveis elevados, brincar é também uma forma de a criança extravasar a sua energia, podendo depois concentrar-se nas tarefas que exigem concentração.
Também as próprias brincadeiras podem ser estratégias para levar as crianças a estarem mais concentradas: afinal, estão a prestar atenção e a manter essa mesma atenção numa tarefa que lhes dá prazer, que é do seu agrado e, sobretudo, que não entendem como esforço ou obrigação.
6. Melhora a expressividade
Brincar é uma forma de comunicação. Muitas vezes, as crianças projectam nas suas brincadeiras os seus medos, as suas dúvidas, as suas ansiedades. Esta projecção permite-lhes não apenas uma visão “de fora” para os seus problemas, que poderão dar-lhes uma ajuda para a respectiva resolução, mas também dar sinais aos pais de onde e como poderão ajudar as crianças a obter um desenvolvimento pleno. Sem brincadeiras, muitos pais nunca teriam acesso a este tipo de expressão emocional.
7. Incita à criatividade
Os brinquedos, apesar de terem uma determinado propósito de uso, com diferentes funcionalidades e objectivos, podem e devem servir para outros fins que não àqueles que se destinam inicialmente. Por exemplo, uma caixa de legos não tem de servir exclusivamente para criar o boneco que vem na caixa: pode dar lugar a outro tipo de construções.
Os materiais que temos em casa, recicláveis, também podem ser usados pelas crianças para criar brinquedos e/ou brincadeiras. Esta criatividade, este “pensar fora da caixa” que tantas vezes é pedido aos adultos, pode começar a ser trabalhado em criança com estes pormenores.
8. Implica regras e limites
Brincar implica regras, quer sejam de segurança, quer sejam impostas pelos pais, pelo espaço onde estão a brincar ou pela convivência social. Sendo a disciplina fundamental para o desenvolvimento da criança, brincar também é uma forma de educar para o cumprimento de regras, estabelecimento de limites e determinação de consequências em caso de incumprimento dos mesmos.
9. Desenvolve laços afectivos
Partilhar brincadeiras permite às crianças ter e fazer amigos, até mesmo para aquelas crianças mais tímidas ou com mais dificuldades de relacionamento interpessoal. É nestas primeiras relações de amizade que se treinam as competências que, mais tarde, sustentarão as amizades de adolescente e adulto, já com outras exigências emocionais.
Estas relações permitem ainda à criança estabelecer uma relação com outras pessoas (crianças ou adultos), alargando o seu leque de conhecimentos que, habitualmente, se cingem à escola e às actividades que frequentam.
10. Conduz à felicidade
Quem não é feliz a fazer algo que gosta? Se as crianças souberem que, todos os dias, terão um bocadinho do seu dia para fazerem uma actividade da qual retirem prazer, provavelmente motivar-se-ão a concluir as tarefas obrigatórias pendentes – a motivação interna a desenvolver-se com algo tão simples como brincar.
Mas não se preocupe se estiver a chover e à criança, além de não poder sair, não lhe apetecer brincar com nada: estar entediado é positivo. Obriga-a a reinventar, a pensar, a lidar consigo própria e com a sua frustração. Não se preocupe em dar-lhe alternativas: a criança acabará por procurá-las.
Permita à criança brincar livremente. Afinal, é ela quem tem de se divertir.