Numa era em que estamos totalmente rodeados de informação, os nossos filhos não são exceção. Muitas crianças pequenas acabam até por ser expostas a informação violenta, complexa e difícil de entender. Como explicar o racismo a uma criança de 3 anos? Ou um assassínio? Ou um tiroteio numa escola?
Que devemos fazer? Ignorar as perguntas inevitáveis que farão? Evitar falar de assuntos?
Não, pelo contrário, falar de assuntos difíceis com o seu filho faz com que este se sinta mais seguro. Adicionalmente, é uma forma de o seu filho conhecer o mundo e de fortalecer os seus laços com ele. Este tipo de conversas irá também fomentar o espírito analítico e critico da criança ou adolescente.
Dependendo da idade do seu filho, este irá absorver e reagir à informação de forma diferente. Portanto, o ideal é abordar os assuntos difíceis sem rodeios, mas de forma apropriada à idade do seu filho. Portanto, neste artigo encontrará orientações de como falar de assuntos difíceis com o seu filho, segundo a idade. Selecionámos pois 3 diferentes faixas etárias, correspondentes a cada grande fase do desenvolvimento da criança. Tenha ainda em conta a personalidade, sensibilidade e experiência do seu filho antes de abordar assuntos difíceis.
2 a 6 anos de idade
O centro do mundo das crianças pequenas são os familiares mais próximos: pais, irmãos, avós, animal de estimação…O enfoque nesta idade é a forma como as coisas os afetam e são muito sensíveis ao estado emocional dos pais.
As crianças pequenas não conseguem perceber aspetos de assuntos difíceis e complexos porque não possuem experiência de vida suficiente. Não possuem ainda a noção de conceitos abstratos e de causa e efeito. Por isso, o melhor é evitar a exposição da criança dos 2 aos 6 anos de idade a assuntos difíceis abordados na TV ou outro meio, assegurando que ela está exposta a conteúdos para a idade dela. Contudo, se o seu filho observar algo violento ou perturbador, deve procurar explicar-lhe o assunto. Seguem-se algumas linhas orientadoras:
- Tranquilize-o, tanto com palavras como com gestos: diga-lhe que está tudo bem, que ela, o irmão, a mãe e o pai estão em segurança. Dê-lhe mimos também.
- Converse sobre os sentimentos da criança e os seus: diga-lhe que é normal sentir-se com medo, insegura ou triste. Esses sentimentos são perfeitamente naturais e toda a gente os tem.
- Pergunte-lhe o que sabe sobre o assunto: o seu filho pode não perceber o assunto em questão muito bem. Pergunte-lhe o que acha que aconteceu antes de decidir o que lhe vai dizer.
- Use termos simples: explique o assunto com os termos mais básicos possíveis. Um tiroteio por exemplo, diga que alguém magoou outras pessoas com uma arma.
- Diga ao seu filho que o assunto está a ser tratado por alguém: diga que a polícia vai apanhar a pessoa má, por exemplo.
- Use termos e situações familiares ao seu filho: para um assalto, por exemplo, pergunte-lhe se ele se lembra quando roubaram a carteira ao tio, por exemplo.
7 a 12 anos de idade
Nesta faixa etária as crianças já conseguem ler e escrever. Estão, portanto, propensas a estarem expostas a conteúdos não apropriados para a sua idade. A isto acresce o facto de poderem entrar em contacto com conteúdos violentos ou perturbadores pois têm uma maior liberdade para explorar os media. Nesta fase as crianças estão já a adquirir pensamento abstrato, possuem uma maior experiência de vida e conseguem perceber assuntos difíceis e exprimir-se melhor. Contudo, as mais pequenas podem ainda não saber bem distinguir a realidade da fantasia. Eis as diretrizes para falar de assuntos difíceis com o seu filho dos 7 aos 12 anos de idade.
- Faça o seu filho sentir-se à vontade para falar do que quiser: diga que o assunto é difícil de abordar, até mesmo para adultos. Demonstre abertura para ele perguntar-lhe sobre qualquer assunto sempre que quiser.
- Aguarde o momento ideal: nesta idade as crianças abordam ainda os pais se souberem de algo que as tenha assustado. Tente “apalpar terreno” para decidir se é a altura certa para o seu filho falar de algo difícil consigo.
- Pergunte-lhe o que sabe sobre o assunto: pergunte também se os colegas na escolas falam sobre o assunto. Responda às perguntas do seu filho de forma simples e clara, sem dar explicações excessivas pois isso pode assustá-lo ainda mais.
- Explique o contexto e as circunstância: em relação a um evento explique as circunstâncias ao seu filho para que ele perceba as razões para tal. Por exemplo, num crime de racismo pode explicar-lhe que há pessoas que acham que as pessoas de cor branca são melhores do que de cor escura.
- Seja sensível ao temperamento e emoções do seu filho: procure saber o que o seu filho sente relativamente a determinado assunto difícil e partilhe os seus próprios sentimentos com ele.
- Estimule o pensamento crítico no seu filho: pergunte-lhe a opinião e o porquê para tal relativamente a determinados assuntos difíceis e complexos.
Adolescentes
Nesta idade, o seu filho adolescente é independente relativamente ao conteúdo ao qual se expõe e com o qual interage. Devido a essa autonomia em usar os media, poderão deparar-se com conteúdos difíceis e perturbadores sem que o saiba. Ainda por cima, os próprios adolescentes criam já o seu próprio conteúdo que partilham nos media em formato de vídeos e comentários. Adicionalmente, porque estão numa fase em que acham saber tudo e mais que os pais, valorizam o que os amigos pensam em detrimento da sua opinião. Poderão ir diretamente ler os comentários de uma publicação em vez de se inteirarem da história primeiro. Assim:
- Encoraje o seu filho adolescente a procurar fontes de informação credíveis e que enriqueçam o seu conhecimento.
- Faça-lhe perguntas que o levem a pensar sobre as razões que os levam às suas próprias opiniões; o que faria ele numa situação difícil, Isto encoraja o pensamento analítico e crítico.
- Pergunte-lhe que opinião tem sobre certo assunto difícil e peça para a justificar.
- Se não souber algo admita-o perante o seu filho adolescente; pode convida-lo a tentarem descobrir juntos
- Dê-lhe as suas próprias opiniões sobre assuntos difíceis.
- Converse com eles sobre as “notícias” que ouvem nas suas próprias “fontes”, nomeadamente as redes sociais. Procure fazer-lhes ver que essas fontes apresentam uma perspetiva, ao contrário de uma cadeia de TV, por exemplo.
- Os adolescentes tendem a ser cínicos mas cheios de ideais. Pergunte ao seu filho o que faria para melhorar ou resolver assuntos difíceis.