Fatores de risco para alterações do desenvolvimento
Considera-se que uma criança está em risco quando está ou esteve sujeita a certas condições adversas, que se sabe estarem altamente correlacionadas com o aparecimento posterior de défices numa ou mais áreas do desenvolvimento (4,5,7).
Há dois grandes grupos de fatores de risco, biológicos e ambientais (Quadros 1 e 2). Os diferentes fatores não são mutuamente exclusivos e frequentemente coincidem com alterações do desenvolvimento.
No risco ambiental isolado, a criança é genética e biologicamente normal, mas está inserida num contexto de privação (4).
No risco biológico, passou por situações com forte potencial para lesar o SNC (5). Em todos os casos, a intervenção precoce deve ter como objectivo a redução do impacto dos diferentes fatores de risco, através de intervenções médicas, terapêuticas e socioeducativas.
Quadro 1 – Fatores de risco biológico
- Peso de nascimento <1500g ou idade gestacional <34 semanas;
- Recém-nascido leve para a idade gestacional;
- Asfixia perinatal;
- Índice de Apgar inferior a 3 aos 5 minutos e evidência de disfunção neurológica;
- Necessidade de ventilação mecânica;
- Evidência clínica de anomalias do SNC;
- Hiperbilirrubinémia >20mg/dl (342 mmol/l) em recém-nascidos de termo;
- Antecedentes pessoais ou familiares de doença genética, metabólica ou dismorfismos;
- Infeções congénitas;
- Meningite / sépsis;
- TCE grave.
Idealmente, as crianças com risco pré, peri ou pós natal, deverão ser seguidas em consultas de Alto Risco biológico, geralmente ligadas a serviços de neonatologia, com o objetivo de diagnosticar precocemente alterações do desenvolvimento (5).
As crianças de risco ambiental deverão ser sujeitas a uma vigilância ainda mais cuidada do seu desenvolvimento. Umas e outras deverão ser orientadas para programas de Intervenção Precoce, onde idealmente será feito um trabalho nos contextos naturais da criança e com grande envolvimento da família (4,5).
Quadro 2 – Fatores de risco ambiental
- Família em situação de pobreza;
- Pais adolescentes;
- Pais com patologia psiquiátrica importante (depressão major, esquizofrenia);
- Pais toxicodependentes, alcoólicos;
- Pais com défice cognitivo;
- Pais com défice sensorial significativo;
- Pais com perturbações antissociais;
- Falta de estruturas de apoio familiar ou social;
- Sinais de maus-tratos e negligência à criança ou a irmãos;
- Família com outras crianças institucionalizadas;
- Separação prolongada da criança;
- Crianças institucionalizadas.