Uma criança saudável é sinónimo de bem-estar físico, mas também de emocional. Aliás, a saúde emocional influencia vários aspetos da vida e do dia-a-dia dos nossos filhos, incluindo as relações interpessoais, a capacidade de lidar com o stress e a ansiedade e até o desempenho escolar.
Como tal, aprender e desenvolver uma série de ferramentas que possam ajudam a entender e a gerir de forma adequada todas as nossas emoções e os acontecimentos que ocorrem ao longo da vida, é essencial para qualquer pessoa durante as diferentes fases: infância, adolescência e vida adulta.
Uma criança que aprende as competências emocionais desde cedo, torna-se num ser humano mais resiliente e preparado para lidar com os desafios que a vida inevitavelmente trará.
Crianças mais conscientes e capazes
Mónica Antunes, diretora pedagógica da Open Learning School, defende que as instituições de ensino têm um papel determinante no desenvolvimento da inteligência emocional nas crianças. As crianças e jovens a quem, diariamente, lhes são fornecidas estas ferramentas, destacam-se em 5 áreas:
- Consciência emocional – Capacidade de dar nomes às emoções que estão a sentir e compreender o impacto que as mesmas têm sobre elas e sobre as pessoas que as rodeiam;
- Autoregulação – Habilidade para gerir emoções como o stress, a frustração e a ansiedade de forma positiva. Esta capacidade faz com que sejam menos impulsivas nas suas ações, mostrando mais ponderação e até autoconhecimento;
- Empatia e cooperação – Maior facilidade em compreender as emoções das outras pessoas e a colocarem-se no lugar delas, o que, consequentemente, contribui para um ambiente de respeito e cooperação;
- Resolução de conflitos – Capacidade de resolver desentendimentos de forma tranquila e construtiva através da comunicação assertiva e empática das suas necessidades e sentimentos, demonstrando igual capacidade de procurar e encontrar soluções que sirvam ambas as partes;
- Desempenho académico – Maior capacidade de concentração, motivação e interesse pelas atividades.
“Um maior desenvolvimento destes cinco aspetos irá traduzir-se em bem-estar emocional, interações interpessoais mais saudáveis e maior sucesso, tanto na escola, como na vida adulta”. explica.
“As emoções não são nem positivas, nem negativas. Na verdade, o que lhes atribui um carácter negativo ou positivo é a razão pela qual poderemos estar a sentir uma dada emoção, mesmo a nível físico.”
Para Mónica Antunes, é importante esclarecer que a educação emocional não é sinónimo de “educar as crianças como se fossem de cristal, com medo de magoá-las” por pensarmos que são mais frágeis. Tal abordagem apenas contribuiria para a formação de jovens e adultos “dependentes e socialmente inaptos”.
A educação emocional é antes “um processo contínuo que consiste em termos consciência do que sentimos e sermos capazes de fazer uma ligação entre essas emoções e a realidade. É através deste processo que somos capazes de regular estes sentimentos de forma positiva, ou seja, reconhecer, gerir e responder às diferentes emoções que experienciamos ao longo do dia”.
As escolas que apostam na saúde emocional como um dos pilares da abordagem pedagógica conseguem formar crianças orientadas e incentivadas a compreender os seus sentimentos e a expressá-los abertamente e de forma clara. Para tal, é necessário que a criança tenha as ferramentas ideias para conseguir “refletir sobre o que despoletou as suas emoções, seja interna ou externamente, e o impacto que as suas ações podem ter nas pessoas que a rodeiam”.
“Com estas ferramentas, serão capazes de lidar com o vasto espetro de emoções que uma pessoa experiencia ao longo da sua vida, tendo sempre em consideração o impacto que as suas ações podem ter nos outros.”
A transmissão de conhecimento num ambiente natural e holístico
De acordo com a pedagogia da Open Learning School, estes conhecimentos não são passíveis de ser transmitidos numa aula, onde um professor explica o que considera ser pertinente e relevante – o típico método de ensino que vigora na grande parte das escolas no nosso país.
Vamos a um exemplo concreto. É muito comum as crianças não conseguirem gerir emoções quando um colega não lhe empresta o seu brinquedo. Assistimos a birras, choros e até gritos. Tudo isto acontece porque a criança não é ainda capaz de formar um diálogo interno entre as áreas emocional e racional do seu cérebro para dar sentido ao que está a acontecer. Esta reação não é mais do que uma incapacidade da criança em lidar com alguma emoção que está a viver com grande intensidade naquele momento e não é ainda capaz de regular.
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E qual seria a melhor forma de lidar com a criança nesta situação?
“Em primeiro lugar, procuramos conectar-nos com a criança e com aquilo que está a sentir – mesmo que não concordemos com as suas ações. Em vez de dizermos “não fiques triste” ou “estás a portar-te mal”, reconhecemos as suas emoções: “compreendo que te estejas a sentir triste” ou “consegues falar comigo sobre isso?”. O importante nesta primeira interação é que a criança perceba que entendemos o seu mal-estar, ao estarmos presentes e disponíveis para ajudá-la, de forma carinhosa a regressar a um estado mais tranquilo. Só quando a criança estiver calma é que será possível ajudá-la a refletir com mais clareza sobre o que aconteceu, utilizando um discurso positivo e motivador, e, consequentemente, a guiá-la na procura de outras soluções que se afastem de um comportamento impulsivo. Dependendo da maturidade da criança, poder-se-á refletir em conjunto sobre o que melhorar numa próxima situação do mesmo género, de modo a antecipar e a prevenir estes comportamentos mais desregulados”, explica Mónica Antunes.
Paciência, empatia e compreensão são fatores chaves neste tipo de situações.
É importante esperar que a criança se acalme para nos colocarmos à sua altura e dialogar. Esta conversa será fundamental para a criança começar a criar um diálogo interno que será útil sempre que se encontrar numa situação semelhante. A partir daqui, já estamos a providenciar a criança com boas bases para começar a identificar as suas emoções e a perceber a causa do seu comportamento, ajudando-a a regular e a adaptar a sua resposta a outras situações no futuro.
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