A chamada “nova” vacina contra a meningite tem sido alvo de muita atenção. “Nova” entre aspas porque, na verdade, esta vacina não é nova, já existe.
A indicação de toma desta vacina é que mudou recentemente na Europa. Esta mudança deve-se a alterações no número de infeções por aquelas estirpes.
A atual atenção prende-se com o facto de ter havido uma incidência maior de casos de meningite W em Portugal no ano de 2019. Segundo os dados fornecidos pela Direção- Geral de Saúde ao Jornal de Notícias, entre 2007 e 2016 houve quatro casos de meningite causados pelo grupo W. Em 2017 registou-se um caso e em 2018 cinco casos.
O pediatra Hugo Rodrigues esclarece eventuais dúvidas sobre as estirpes A, C, W e Y à revista Visão.
Afinal o que é o Meningococo?
O Meningococo é uma bactéria altamente agressiva que afeta apenas o ser humano. Existem diversos tipos conhecidos, mas só seis provocam doença. Estes são os tipos (estripes) A, B, C, W, X e Y.
Devido à sua elevada agressividade, o Meningococo pode provocar doenças extremamente graves, tais como meningites, sépsis (infeção generalizada) e pneumonias. Este microorganismo transmite-se através dos adolescentes e adultos jovens, que o podem transportar na sua garganta durante dias ou semanas. A bactéria é transmitida para outras pessoas através de gotículas respiratórias.
Meningococo A
Atualmente, esta estirpe não é um verdadeiro problema em Portugal. O Meningococo A existe principalmente em países em vias de desenvolvimento, particularmente países africanos.
Meningococo C
Até há poucos anos atrás este era o Meningococo que causava mais infeções em Portugal. Contudo, com a introdução da vacina contra esta estirpe no Programa Nacional de Vacinação (administrada aos 12 meses de idade) a frequência de infeções diminuiu exponencialmente.
Os casos de infecção provocada por esta estirpe são atualmente apenas residuais no nosso país. Contudo, como esta redução se deve à introdução da vacina, é fundamental manter a cobertura vacinal.
Meningococo Y
Este é segundo Meningococo com maior incidência de infeções em Portugal (atrás do Meningococo B). São registados cerca de cinco a sete casos anuais, em média , de forma relativamente estável.
Contudo, os casos de infeção por esta estirpe têm vindo a aumentar em quase todos os países europeus. Só em Espanha os casos nos últimos dois anos duplicaram. A infeção provoca a morte em cerca de 7% dos casos. A probabilidade de deixar sequelas é de cerca de 20%.
Devido à tendência crescente na Europa, a estirpe Y exige uma atenção particular.
Meningococo W
Destas quatro estirpes, a W é, segundo Hugo Rodrigues, a que atualmente causa maior preocupação. Isto porque surgiu uma forma altamente agressiva desta bactéria, que tem aumentado em todos os países Europeus. Portugal não é exceção.
Esta forma agressiva traz consigo um índice de mortalidade extremamente elevado: cerca de 30%. A probabilidade de deixar sequelas é de cerca de 20% dos casos.
O Meningococo W era responsável por apenas um a dois casos anuais em Portugal. No entanto, esse número aumentou para cinco em 2018. Em 2019, até ao fim de outubro, foram notificados já oito casos. Esta tendência segue a dos outros países europeus. Adicionalmente, por ser uma estirpe tão agressiva, torna-se motivo de enorme preocupação.
O pediatra conclui reforçando a necessidade de seguir a indicação da Sociedade Portuguesa de Pediatria, que recomenda a vacinação de todas as crianças e adolescentes contra estas quatro estirpes de Meningococo, sempre que possível.
Apenas a vacina contra a meningite C está atualmente contemplada (2019) no Plano Nacional de Vacinação. A vacina conjugada quadrivalente ACWY não está contemplada no Plano Nacional de Vacinação, exceto em casos excecionais. A vacina (Nimenrix) custa cerca de 50 euros e encontra-se neste momento esgotada (novembro de 2019) na maior parte das farmácias portuguesas.