Os cuidados com os dentes dos bebés são uma grande preocupação dos pais. Cada vez mais, os pais se preocupam com os dentes de leite dos filhos. Apesar destes dentes serem temporários, eles são muito importantes e devem ser tratados com os mesmos cuidados dos permanentes. Neste artigo, o pediatra Dr. Armado Fernandes responde a algumas questões sobre a saúde oral infantil.
Resposta a dúvidas sobre saúde oral infantil
1. Como se define a odontopediatria?
A Odontopediatria é uma especialização da Odontologia que cuida da saúde oral de crianças. A Odontologia é a ciência que estuda e trata o sistema mastigatório, compreendendo a cabeça e pescoço – abrangendo ossos, musculatura mastigatória, articulações, dentes e tecidos subjacentes.
2. Qual a importância da primeira dentição?
Como em todas as alterações pediátricas, o tratamento precoce ou atempado é essencial para melhorar os resultados, a evolução e minimizar as eventuais complicações.
A primeira dentição, também designada por decídua, é importante para o desenvolvimento da face, uma vez que o alvéolo existe em função do dente e, uma vez perdido o dente, o espaço alveolar atrofia-se dificultando o nascimento dos dentes permanentes, pois reduz o tamanho da arcada dentária, bem como, pode provocar a extrusão do dente antagonista quando o osso não acompanha procurando apoio, o que pode reduzir a dimensão vertical da arcada fazendo com que esta fique disforme, podendo ainda causar disfunção na articulação têmporomandibular.
A conservação dos dentes decíduos também é importante para o desenvolvimento da fala e para o equilíbrio emocional das crianças ao se relacionarem com as demais. Os dentes decíduos são importantes também na mastigação de alimentos nos primeiros anos de vida da criança.
Cada vez mais, os pais se preocupam com os dentes dos filhos. Apesar destes dentes serem temporários, eles são muito importantes e devem ser tratados com os mesmos cuidados dos permanentes.
Esta importância dos dentes decíduos (dentes de leite) deve-se a diversos fatores, tais quais:
- Estimulam o crescimento do osso que dá suporte aos dentes (osso alveolar) por serem os dentes com os quais as crianças mastigam. Se os mesmos se perdem muito cedo, a criança pode vir a ter problemas de digestão.
- Contribuem para a estética da criança, embora não pareça importante, manter os dentes bonitos tem um grande valor psicológico para as crianças.
- Auxiliam na articulação das palavras.
- Servem de guia e mantêm o espaço apropriado para os dentes permanentes, sendo que, se um dente de leite é perdido muito antes da época certa, o espaço fecha-se e o permanente pode ficar retido e não erupcionar.
- Prepara o caminho para a erupção dos dentes permanentes, mantendo espaço nos arcos dentais e equilíbrio harmónico no crescimento (dentes, ossos e músculos).
- Proporciona uma mastigação e deglutição dos alimentos e, consequentemente, uma melhor digestão.
- É importante no desenvolvimento da fonação, facilitando na pronúncia dos fonemas dentais, como: t / v / f / z / s.
- Função estética: quando deparamos com crianças esteticamente comprometidas percebemos que ocorre com elas uma dificuldade de comunicação e integração social.
3. As grávidas devem ter cuidados redobrados para prevenir problemas dentários nos bebés?
Alguns estudos recentes apontam para uma ligação entre as doenças gengivais da grávida e os partos pré-termo e os recém-nascidos de baixo peso, ou seja, as mulheres grávidas que têm doença gengival estão mais sujeitas a que o seu bebé nasça mais cedo e mais pequeno.
Estes dados não são consensuais pelo que são necessárias mais pesquisas para confirmar ou infirmar estes dados.
4. Existe uma dúvida que ainda se mantém: os bebés podem nascer com dentes?
É verdade que já nascem com dentes ou isso não é possível, sendo apenas um mito? Se sim, como se explica a existência de dentição? Com quantos dentes é possível nascerem?
Sim, alguns bebés já nascem com dentes. Estima-se que 1 em cada 2.000 recém-nascidos nasça com dentes, o que se extrapolarmos estes dados para Portugal teremos cerca de 50 recém-nascidos com dentes durante um ano.
Geralmente, nascem com dois dentes na mandíbula, na posição dos incisivos centrais. Isto é possível porque a mineralização (calcificação) destes dentes inicia-se por volta dos quatro meses da vida intrauterina.
A literatura refere que Júlio César, Aníbal, Luís XIV, o cardeal Mazarino e o cardeal Richelieu, Mirabeau e Napoleão Bonaparte nasceram com um dente.
5. Quais as idades em que se verifica a erupção dentária nos bebés
Existe um padrão, ou seja, a partir de certa idade – mês – é possível que nasça o primeiro dentinho?
Em geral, a erupção inicia-se por volta dos 6 meses e os primeiros dentes a romper costumam ser os incisivos centrais inferiores (a meio da gengiva de baixo), seguidos pelos incisivos centrais superiores. Posteriormente rompem os outros, até completar a dentição decídua, composta por 20 dentes, até aos 3 anos.
6. Como se constitui a dentição?
Quais os primeiros dentes a surgir? Quais os primeiros dentes, quais os que se formam a seguir para que a dentição seja completa?
O desenvolvimento dos dentes compreende três fases: a mineralização (calcificação), a erupção (quando os dentes rompem) e a esfoliação (quando caem).
A mineralização começa ainda no período pré-natal e continua até aos 3 anos para a primeira dentição, também chamada dentição decídua ou “dentes de leite” e até aos 25 anos para a segunda ou dentição permanente.
Em geral, a erupção inicia-se por volta dos 6 meses e os primeiros dentes a romper costumam ser os incisivos centrais inferiores (a meio da gengiva de baixo), seguidos pelos incisivos centrais superiores; posteriormente rompem os outros até completar a dentição decídua, composta por 20 dentes, até aos 3 anos.
7. Por que razão se chama de “dente de leite”?
Dentes de leite, também chamados de dentes temporários ou dentes decíduos, são os primeiros dentes da criança, que começam a aparecer na boca normalmente por volta dos 6 meses de idade.
8. Como se explica que alguns bebés tenham um atraso na erupção dentária? A que se deve, quais as causas?
Existe uma grande variabilidade sem que isso tenha qualquer significado patológico (em 1% das crianças o primeiro “dente de leite” aparece após os 12 meses de vida).
Alguns autores, consideram existir uma erupção tardia quando uma criança aos 13 meses ainda não tem dentes e, neste caso, pode justificar-se investigar as suas eventuais causas.
Dentre estas, as mais comuns são as causas idiopáticas (causa desconhecida), mas podem ser familiares ou distúrbios nutricionais ou sistémicos, como hipopituitarismo, hipotiroidismo, raquitismo, Trissomia 21, entre outras.
9. Que tipo de problemas de saúde oral podem ter os bebés?
Bebés pequenos de colo e como isso pode condicionar uma boa saúde oral no futuro?
A cárie dentária é a doença mais prevalente em Portugal e a sua prevenção deve iniciar-se mesmo antes do bebé ter dentes, através da racionalização do consumo de açúcar e da higiene oral.
À noite existe uma diminuição da salivação e também do reflexo da deglutição que favorece a retenção do alimento junto ao dente e consequente desenvolvimento de cárie. O uso do biberão após a erupção dos dentes poderá levar a chamada cárie do biberão , quando apresentar um uso descontrolado e contínuo. O facto de adicionar outro componente, como açúcar e cereais, leva a um aumento da cárie.
Também recomendamos que o biberão noturno seja suspenso gradualmente, após erupção dos primeiros dentinhos. Caso haja dificuldade, poderá oferecer ao bebé um biberão com água pura.
10. Quais os sintomas da dentição?
Existem problemas de saúde que surgem associados ao aparecimento de dentes (por exemplo: febre, cólicas, dores, falta de apetite… ou outras?)? Estas situações são normais?
Em muitos bebés a erupção dentária é assintomática ou provoca um desconforto ligeiro. Contudo, em alguns bebés podem surgir: nervosismo ou grande irritabilidade, salivação abundante, rejeição do biberão (as gengivas doridas podem provocar incómodo durante a mamada).
Nesta fase, instintivamente, o bebé tentará levar à boca tudo o que apanhar, na tentativa de atenuar a desconfortável dor nas gengivas.
Raramente, poderá surgir uma febrícula (excecionalmente acima de 38,8 ºC). A observação a gengiva torna-se mais vermelha e, por vezes, inchada.
11. O uso de chupeta é aconselhável?
Não é prejudicial aos dentes? É correto a utilização de objetos para alívio da “dor” de dentes, quando estes tendem a romper? Como ajudar a aliviar a dor e irritação que surge nesta fase do aparecimento dos dentes?
O uso de chupeta, assim como a sucção do dedo, em excesso e para lá de determinada idade (3 anos) pode provocar uma mordida aberta (“dentes de coelho”) com necessidade de acompanhamento e, eventual, intervenção por ortodontia pediátrica.
Na maioria dos casos, a suspensão destas forças antes dos 3-3,5 anos de idade leva a uma correção das deformações e a um desenvolvimento normal da arcada dentária.
A erupção dentária exige paciência e carinho. Para o alívio do seu desconforto pode ser necessário:
- Oferecer ao bebé bebidas frescas.
- Dar ao bebé alimentos duros como côdea de pão ou cenoura (mas sempre com vigilância de um adulto).
- Usar anéis de dentição específicos, alguns dos quais podem ser colocados no frigorífico.
- Aplicar gel de massagem gengival e administra-lhe, se mesmo assim o bebé estiver muito irritado), um analgésico.
12. Existem escovas de dentes para bebés que têm apenas alguns dentes?
Quais os cuidados de higiene oral a ter com os bebés? Há escovas e pasta de dentes ou algum gel para os bebés?
Uma boa higiene dentária e os cuidados com a boca devem começar desde o nascimento, requerendo apenas alguns minutos por dia. O tempo despendido será largamente compensado em dentes e gengivas que se manterão sãos durante toda a vida.
Do nascimento até à erupção do primeiro dente, convém limpar a boca com um pano húmido (por exemplo, uma fralda de pano limpo).
Após a erupção do primeiro dente, os pais podem ou devem garantir que:
a) Os dentes dos filhos sejam escovados pelo menos duas vezes por dia, de manhã e à noite (depois de lavar os dentes à noite, não lhe dê leite, bolachas, xaropes, etc.), durante cerca de 2 minutos; se possível, devem ser escovados também depois das refeições.
- Entre os 6-24 meses, os pais podem utilizar uma compressa húmida, “dedeira dentária” ou escova com pasta adequadas (a quantidade de pasta deve ser do tamanho do dedo mindinho da criança).
- Entre os 2-4 anos, os pais devem utilizar uma escova com pasta com flúor.
- Entre os 4-6 anos, os pais ainda devem supervisionar a utilização de escova e da pasta com flúor.
- Após os 6 anos, geralmente as crianças conseguem uma boa autonomia, lavando sozinhos corretamente os dentes.
b) Os seus filhos tenham uma alimentação equilibrada, evitando a ingestão de alimentos ricos em açúcar (bolachas, doces, chocolates, etc.) e os “snacks” entre as refeições.
13. Os problemas dentários podem provocar problemas de fala ou outros nos bebés?
Sim. Por exemplo, uma má oclusão dentária pode provocar perturbações articulatórias da linguagem, deformações faciais (que podem afetar o sorriso), problemas na articulação temporo-mandibular (dores, artrite, etc.), maior suscetibilidade às cáries e à doença periodontal, entre outros.
14. Quando se deve consultar um dentista?
Quando é aconselhável fazer a primeira consulta ao dentista?
Compete aos Pediatras dar orientações sobre higiene oral, medidas de prevenção no campo da alimentação e no controlo de hábitos que podem ser prejudiciais para o desenvolvimento da dentição (chuchar no dedo, chuchar na chupeta, entre outros) e prestar esclarecimento sobre quaisquer dúvidas dos pais, mesmo antes que os dentes comecem a nascer.
Por rotina, costumo enviar a maioria dos “meus meninos” ao Estomatologista/Dentista a partir dos 2-3 anos de idade, mas cada vez mais as principais associações e academias de Odontopediatria recomendam que a primeira consulta de Medicina Dentária deve ser efetuada durante o primeiro ano de vida.
15. O que são os selantes?
Os selantes são um material semelhante a um verniz que se coloca sobre as superfícies mais rugosas do dente (sulcos e fissuras).
Estas superfícies são difíceis de limpar e a colocação de um material que diminua a profundidade dos sulcos vai também diminuir a acumulação da placa bacteriana e, consequentemente, da cárie dentária. A colocação do selante ajuda a prevenir a cárie dentária mas não dispensa a higiene oral comum dos dentes.
Em crianças colaborantes pode tentar-se a sua aplicação após os 5 anos de idade.