Existem mulheres que têm um medo exacerbado do momento do parto. A este transtorno psicológico dá-se o nome de Tocofobia.
Tocofobia
O que é?
A tocofobia é um transtorno psicológico, descoberto pela psiquiatra Kristina Hofberg no início do séc. XIX, que se define pelo medo irracional e excessivo do momento do parto que leva que, em situações extremas, a mulher queira e tente evitar esse momento. A palavra tem origem nos termos gregos “tokos” (parto, descendência) e “phobos” (medo).
Fobia: medo significativo e persistente, excessivo ou irracional na presença ou antecipação de um determinado objeto ou situação.
Enquanto transtorno ligado à psique e emoções, a tocofobia associa-se também a ansiedade, depressão, stress pós-traumático e a desordens emocionais várias.
“Todo tipo de fobia é um transtorno de ansiedade e as causas podem ser várias”, afirma a psicóloga especialista em Avaliação Psicológica e Neuropsicológica Elaine Di Sarno em declarações à revista Crescer.
Este transtorno que perturba a mulher ao longo da sua vida, incluindo no período de infância, adolescência ou pré-conceção e durante a gestação, designados de tocofobia primária e tocofobia secundária, respetivamente.
Tocofobia primária e secundária – o que as distingue?
Como vimos anteriormente, a tocofobia pode ser classificada de acordo o momento e a fase da vida em que os sintomas se manifestam:
- Tocofobia primária – medo persistente do parto
O medo da gravidez e do parto aparece antes de a mulher engravidar ou do parto.
A origem deste medo pode ter várias causas, tais como situações traumáticas na infância e adolescência, partos de pessoas próximas que não correu bem, abusos sexuais ou relatos de partos mal sucedidos (na televisão, por exemplo) nos quais a mãe sofreu muito para dar à luz.
O medo a hospitais e a médicos também pode estar na origem ou agravar a fobia.
Tocofobia secundária – quando a tocofobia se desenvolve depois de um parto traumatizante
Neste caso, a fobia está relacionada com experiências dolorosas vivenciadas pela própria mulher, como um parto anterior traumatizante, doloroso, demasiado prolongado, que deu origem a complicações para a saúde do bebé ou que culminou mesmo na morte fetal.
Como identificar a tocofobia?
A ansiedade, ataques de pânico, pesadelos, alterações no sono, falta de apetite, irritabilidade e impaciência são alguns dos sinais que podem indicar que a mulher está perante esta fobia.
A tocofobia e a resistência à maternidade
Tal como outras fobias, a tocofobia pode ter um efeito psicológico profundo e incapacitante. A consequência mais frequente de uma fobia é evitar o que a motiva.
Algumas mulheres conseguem enfrentar este medo excessivo, porque querem muito ser mães, mas com intenso desconforto.
Em alguns casos, o medo da gravidez e do parto pode mesmo fazer com que a mulher desista de ser mãe ou ficar aliviada quando sofre um aborto espontâneo.
Muitas mulheres também referem recear as consequências a longo prazo de uma gravidez (como a incontinência urinária ou danos na vida íntima).
Tratamento da tocofobia
A tocofobia pode ser tratada com intervenção psicoterapêutica. Esta ajuda a reconhecer as causas da fobia e fornece estratégias para enfrentar o medo. O desenvolvimento destas estratégias tem como objetivo reduzir a ansiedade e treinar o corpo para lidar confortavelmente com o medo.
Idealmente, toda a equipa de saúde deve estar sensibilizada para o problema: obstetra, médico de família, enfermeiros, psicólogo e, em alguns casos, o psiquiatra.
A hipnose é uma técnica utilizada para alterar a relação emocional com a situação que provoca o medo. A meditação, o pensamento positivo e a visualização do momento do parto e do bebé são outras formas de preparar as mulheres mais receosas para o parto.
Para algumas mulheres fazer um plano de parto detalhado e ter alguém esclarecido a seu lado, como uma doula, pode ser uma ajuda preciosa para dar à luz com calma e controlo. Esta profissional pode guiá-la durante o parto e dar-lhe as estratégias de que necessita para enfrentar cada fase do trabalho de parto com segurança.
Caso o distúrbio não seja tratado, pode desencadear “um quadro de depressão grave [a aborto espontâneo ou baby blues] ou psicose puerperal [ou psicose pós-parto], no qual a criança precisa ser afastada da mãe”, havendo a necessidade de a mulher ser internada, explica Karina Tafner à revista Crescer, ginecologista e obstetra especialista em Endocrinologia Ginecológica e Reprodução Humana.
O medo do parto é um sentimento comum, mesmo que a mulher não sofra de tocofobia
Mesmo não sofrendo de tocofobia, a grande maioria das mulheres tem medo do parto, especialmente as mães de primeira viagem, para quem tudo é novidade. A entrada no último mês de gestação pode agravar a ansiedade e o medo.
A qualidade da relação do casal e o papel do futuro pai são essenciais em todo o processo. O apoio do companheiro aumenta a sensação de segurança e ajuda a reforçar atitudes e pensamentos positivos.
É fundamental que a mulher se sinta apoiada e completamente esclarecida sobre os mecanismos do parto, o que pode fazer para minimizar o desconforto das primeiras horas do trabalho de parto, como atuará a anestesia epidural durante o parto e confiar na equipa clínica que a vai ajudar a ver nascer o seu bebé.