A paralisia cerebral é uma situação originada por uma lesão no cérebro, que se manifesta por perturbações motoras, às quais se podem associar perturbações sensoriais e percetivas, alterações na comunicação e, por vezes, deficiência mental.
Paralisia cerebral
A paralisia cerebral (PC) é a deficiência motora mais frequente na infância estimado-se, a nível europeu, uma incidência de 2,08 por mil nado-vivos. Estima-se que, a cada 1000 bebés, 2 tenham paralisia cerebral, grupo de desordens permanentes do desenvolvimento, postura e do movimento, causando limitações na atividade, atribuídas a um distúrbio não progressivo, que ocorre no cérebro em desenvolvimento, do feto ou da criança.
O que é?
A paralisia cerebral caracteriza-se por uma disfunção neuromotora não progressiva secundária a uma lesão cerebral, que ocorre nos estádios precoces do desenvolvimento da criança.
Esta lesão no cérebro, que ocorre no período de desenvolvimento do cérebro – antes do nascimento, na altura do parto ou nos primeiros anos de vida –, é causada por hemorragia, falta de oxigenação, causa tóxica ou infeciosa (rubéola, toxoplasmose e citomegalovírus), por incompatibilidade Rh ou prematuridade.
“O termo Paralisia Cerebral é utilizado para descrever um grupo de desordens permanentes do desenvolvimento, postura e do movimento, causando limitações na atividade, atribuídas a um distúrbio não progressivo, que ocorre no cérebro em desenvolvimento, do feto ou da criança.
É normalmente acompanhada por distúrbios da sensação, cognição, comunicação, percepção e comportamento, por epilepsia e por problemas músculo-esqueléticos secundários.”
Fonte: Rosenbaum P, Paneth N, Leviton A, Goldstein M, Bax M, Damiano D, et al. A report: the definition and classification of cerebral palsy. April 2006. Dev Med Child Neurol Suppl 2007;109:8-14.
As perturbações podem ser ligeiras, atingindo apenas um lado do corpo ou só um membro ou mais acentuadas, impedindo a pessoa de andar, de controlar os movimentos dos membros e de comunicar pela fala.
Apesar da melhoria dos cuidados perinatais e da baixa mortalidade perinatal, a prevalência das perturbações do neurodesenvolvimento tem-se mantido constante ao longo dos últimos anos.
Desenvolvimento infantil
Para além da perturbação global do controlo da postura e/ou do movimento, esta disfunção motora pode apresentar igualmente um leque variado de perturbações associadas, entre as quais:
- Défices visuais;
- Auditivos e cognitivos;
- Perturbações da linguagem, do comportamento, da aprendizagem;
- Epilepsia.
Devido ao peso desproporcional nas articulações, a formas inadequadas de se mover e de trabalhar os músculos, a movimentos involuntários ou ao crescimento desigual da coluna, algumas crianças com paralisia cerebral podem desenvolver dor aguda que, nalguns casos, pode evoluir para dor crónica. A intensidade da dor pode tornar-se muito grave, perturbando o sono, a concentração durante o dia, e o desenvolvimento motor e a vida social.
Causas da paralisia cerebral
Num grande número de casos, é difícil determinar a causa responsável. Dado que o cérebro humano tem uma estrutura muito complexa, as manifestações de paralisia cerebral são extremamente diversas, conforme a região do cérebro atingida e a gravidade da lesão. Portanto, não há dois casos iguais de sequelas de paralisia cerebral.
Contudo, sabe-se que a paralisia cerebral não é resultado de qualquer deficiência nos pais ou de uma doença hereditária. Pode ser causada por hemorragias, deficiência na circulação cerebral ou falta de oxigénio no cérebro, traumatismo, infeções, nascimento prematuro ou icterícia neonatal grave.
O maior número de problemas de desenvolvimento no cérebro que conduzem à paralisia cerebral ocorre antes do nascimento. Estes danos cerebrais tanto podem referir-se à degeneração ou desintegração do tecido cerebral, como a algum tipo de hemorragia no tecido cerebral, resultando em diferentes graus de dano das fibras nervosas.
A lesão pode ocorrer em três períodos distintos: pré-natal, perinatal ou pós-natal.
Fatores pré-natais
- Gravidez múltipla (relacionado cm a baixa idade gestacional e peso ao nascer);
- Infeções virais congénitas (rubéola, toxoplasmose e citomegalovírus);
- Perturbações hormonais (diabetes na grazidez, perturbações da tiróide);
- Consumo elevado de álcool, estupefacientes e nicotina;
- Stress da mãe;
- Incompatibilidade de grupos sanguíneos (fator RH) e mutações cromossómicas.
Fatores perinatais
Anoxia mecânica:
- Obstrução respiratória;
- Sobredosagem de drogas;
- Descolamento da placenta;
- Má posição do feto.
Traumatismos:
- Hemorragia associada;
- Utilização de forcéps;
- Resistência da cabeça;
- Parto induzido;
- Mudanças de pressão.
Complicações do nascimento:
- Prematuridade;
- Desidratação;
- Imaturidade do recém-nascido;
- Infeções de hipoglicemia;
- Reações de hipercalcemia.
Fatores pós-natais
- Fratura e contusão craniana;
- Acidente Vascular Cerebral (AVC) ou Aneurisma Cerebral Congénito;
- Tumores/Quistos;
- Hipoglicemia;
- Hidrocefalia progressiva;
- Situações de abuso.
Tratamento
Apesar de não haver cura definitiva para a paralisia cerebral, algumas estratégias de reabilitação, incluindo programas de formação e de aprendizagem, podem aumentar as capacidades de cada criança, se fornecidas em quantidade suficiente e dentro das melhores e mais atualizadas práticas.
O objetivo principal deve ser sempre considerado o aumento do potencial de cada indivíduo para viver uma vida plena, fazendo todos os possíveis para superar as deficiências percebendo novas formas de a compensar e, assim, realizar as tarefas que se apresentem como barreiras.
Bibliografia consultada:
- Manual de Formação – Conhecimento sobre PC. Editor: Miguel Santos. Autores: Karina Riiskjaer Raun, Mette Kliim-Due, Betina Rasmussen, Peder Esben Bilde, Kirsten Caesar Petersen, Charlotte Jensen, Louise Boettcher. Projecto financiado com o apoio da Comissão Europeia (2012)
- Vigilância Nacional da Paralisia Cerebral aos 5 anos de idade – Crianças nascidas entre 2001 e 2003. Programa de Vigilância Nacional da Paralisia Cerebral aos 5 anos de idade. Centro de Reabilitação de Paralisia Cerebral Calouste Gulbenkian, Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e Federação das Associações Portuguesas de Paralisia Cerebral.
- Fatores da Paralisia Cerebral (Ashwal, et al., 2004; Ozturk et al,: 2007; Rett & Seidler, 1996)
- A Criança com Paralisia Cerebral, Guia para os Pais e Profissionais de Saúde e Educação. Federação das Associações Portuguesas de Paralisia Cerebral, 12 de março de 2014