Depressão e ansiedade na gravidez não é, de todo, o panorama ideal numa gravidez. Contudo, é cada vez comum existem mulheres que, apesar de estarem a ser tratadas para transtornos de depressão e ansiedade, querem engravidar. Mas, será que os antidepressivos na gravidez fazem mal ao bebé?
Antipressivos na gravidez
De acordo com uma nova investigação, uma em cada dez mulheres no Quebec, no Canadá, sofre com depressão na gravidez.
Se a doença não for tratada pode representar riscos quer para a mãe quer para o bebé. No entanto, e contrariamente ao que muitos pensam, nem todos os antidepressivos têm consequências no desenvolvimento fetal. É precisamente nesse campo (sobre os potenciais efeitos colaterais da medicação) que a equipa de cientistas liderada pela professora Cathy Vaillancourt, do Instituto Nacional de Pesquisa Científica (INRS), está trabalhar. O seu objetivo é identificar os fármacos menos nocivos para o decorrer de uma gravidez saudável.
Investigações científicas
Um recente estudo do professor Vaillancourt, juntamente com J. Thomas Sanderson e Nicolas Doucet, do INRS, analisaram pela primeira vez a interação de antidepressivos habitualmente combinados com estrogénio, mais concretamente com a enzima que sintetiza o estrogénio: a aromatase. A investigação, cujos resultados foram publicados na revista científica The Journal of Steroid Bioquímica and Molecular Biology, foi um marco na pesquisa científica sobre os antidepressivos na gravidez, uma vez que a produção desta hormona (estrogénio) é essencial para o normal desenvolvimento do feto e para a adaptação do corpo da mulher à gestação.
Antidepressivos na gravidez: um tema controverso e polémico
A temática da toma de antidepressivos na gravidez é, há vários anos, um tema polémico e controverso entre a comunidade médica e restantes profissionais de saúde.
Vários são os estudos que mostram que, quando administrados às mulheres durante a gestação, alguns desses fármacos estão associados a um maior risco de malformações cardíacas e pulmonares nos bebés. Já outros foram alvo de investigação devido ao relato de casos em que houve o comprometimento do correto desenvolvimento neurológico da criança.
Será o estrogénio um alvo para os antidepressivos?
Acredita-se que os os efeitos nocivos desta classe medicamentosa se deva à interação com determinadas hormonas.
A maioria dos antidepressivos prescritos para mulheres grávidas tem como alvo a serotonina, uma hormona produzida no cérebro e, como foi comprovado pela equipa do professor Vaillancourt, em 2017, na placenta. Esses fármacos pertencem à família dos antidepressivos designados inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs), como é o exemplo do Celexa, Paxil ou Prozac. No entanto, também o estrogénio faz parte do tratamento deste distúrbio neurológica.
“Queríamos perceber de que forma os antidepressivos que foram desenvolvidos para bloquear o transportador de serotonina também atuam na aromatase. Com modelos moleculares, descobrimos que todos os antidepressivos analisados parecem capazes de se ligar diretamente à enzima e regular sua atividade. Isso ainda precisa ser confirmado e o mecanismo preciso ainda precisa ser desenvolvido ”: explicou Cathy Vaillancourt, autora principal do estudo.
Uma investigadora da equipa testou o efeito de diferentes tipos de antidepressivos em amostras de placenta (recolhidas após o parto). Optaram por observar a interação dos antidepressivos mais prescritos nesta fase da vida – a sertralina (Zoloft), venlafaxina (Effexor), fluoxetina (Prozac), paroxetina (Paxil) e citalopram (Celexa) -. A partir dessas análises, descobriram algumas especificidades destes fármacos.
Através da examinação dos efeitos dos antidepressivos no sistema hormonal da placenta, a equipa conseguiu determinar com antecedência se havia risco para o feto.
Então afinal, quais os antidepressivos que se podem tomar na gravidez?
É necessário relembrar que nem todos os antidepressivos têm os efeitos prejudiciais acima descritos.
“Dependendo da sua forma, uma molécula pode não interagir da mesma maneira com o estrogénio e, portanto, pode ser menos prejudicial ao feto em desenvolvimento”, afirma o professor Vaillancourt, especialista no envolvimento da exposição materna a fatores ambientais e medicamentos da placenta humana.
Andrée- Anne Hudon Thibeault, autora principal do estudo, explica que “ao testar vários tipos de antidepressivos em diferentes doses, o contributo desta investigação irá permitir melhores escolhas” em relação ao tipo e à posologia da prescrição de fármacos para as gestantes, minimizando assim os efeitos adversos no desenvolvimento fetal.
É preferível tomar antidepressivos na gravidez do que abandonar a medicação
A interrupção da medicação nem sempre é aconselhável. A depressão pode ter graves consequências se não for tratada. “Alguns estudos sugerem que a depressão também pode comprometer o desenvolvimento fetal , devido em parte a maus hábitos de vida”, declara Vaillancourt.
Atualmente, o cientista e professor está a realizar um estudo de coorte que conta com a participação de mulheres grávidas, acompanhando desde a gravidez ao crescimento dos seus filhos.
“Este trabalho irá proporcionar um bom mapa dos vários efeitos nas mulheres e das suas consequências no desenvolvimento do coração e do cérebro das crianças”, afirma.
“Ainda estamos no estágio inicial do projeto, mas estou confiante de que alguns antidepressivos são mais seguros e outros podem ser desenvolvidos para que possam ser utilizados durante a gravidez”.