A dor durante a relação sexual pode afetar as mulheres em todas as fases da sua vida; mesmo as mulheres que já tiveram anos de sexo confortável podem, numa determinada etapa, ter dor durante a relação. Conheça as principais causas que podem estar na origem deste problema, como aliviar o desconforto para ter uma vida íntima mais prazerosa.
Dor durante a relação sexual
A dor durante a relação é um problema comum?
Sim, a sor durante a relação sexual é um problema muito comum. Cerca de 3 em 4 mulheres referem ter dor durante as relações sexuais em alguma fase da sua vida. Para algumas mulheres trata-se de um problema temporário mas, para outras, pode ser uma condição a longo prazo.
O que causa a dor durante a relação?
A dor durante a relação sexual pode ser um alerta para um problema ginecológico, como quistos nos ovários ou endometriose. A dor durante o ato sexual também pode ser causada por outro tipo de fatores como a inexistência de desejo sexual, deficiente nível de excitação ou pobre lubrificação da vagina.
Onde se sente a dor durante a relação sexual?
A dor pode fazer-se sentir na vulva, na área que circunda a abertura da vagina (chamada vestíbulo) ou dentro da vagina. O períneo é um local comum de dor durante o sexo. Também pode sentir dor na região lombar, região pélvica, útero ou bexiga.
Quando procurar ajuda médica?
Se tem dores frequentes ou severas durante a relação, deve consultar o médico. É importante descartar problemas ginecológicos que podem estar na origem da dor. O seu médico pode ajudá-la a resolver o problema com o diagnóstico correto.
Entre as causas mais comuns relacionadas que afetam a resposta sexual das mulheres encontram-se:
1. Estado de espírito
Sentimentos como medo (como o de magoar o bebé durante a gravidez), culpa, vergonha, depressão na gravidez, constrangimento ou tabus relacionados com o sexo podem impedi-la de relaxar ou de usufruir plenamente a sua vida sexual.
Quando está tensa, é muito mais difícil relaxar e deixar-se ir pelas emoções do momento. Esta tensão, física ou/ emocional, pode causar aumentar a sensação de dor e/ou desconforto durante a penetração.
O stress, a fadiga ou os problemas que a afetam no dia-a-dia também podem afetar muito negativamente o seu nível de desejo sexual.
2. Problemas no relacionamento
Os problemas conjugais podem refletir-se negativamente na sua vida sexual. Estes problemas podem relacionar-se diretamente ou não com o sexo. Podem estar a passar uma fase menos boa, o que interfere com o seu desejo sexual e aumenta o desinteresse por manter a intimidade, ou existir uma incompatibilidade entre níveis de desejo sexual dos parceiros.
3. Medicamentos
Muitos medicamentos podem reduzir o desejo sexual, incluindo alguns utilizados como contracetivo. Alguns medicamentos analgésicos também podem reduzir a líbido.
4. Condição de saúde, doenças crónicas e cirurgias
Algumas condições de saúde ou doenças crónicas podem ter reflexos negativos na vida sexual do casal. Artrite, diabetes, cancro, problemas da tiroide ou depressão são apenas algumas.
Em caso de cirurgia (como no caso de uma mastectomia), algumas mulheres podem desenvolver complexos de autoimagem e que as impede de viver a sua vida sexual normalmente.
5. O seu parceiro
Se o seu parceiro sofrer de algum problema do foro sexual, isso pode impactar a vida íntima do casal. Quando o homem, por exemplo, toma medicação para a disfunção erétil o atraso no orgasmo masculino pode causar relações sexuais longas e dolorosas para a mulher.
Que tipo de problemas ginecológicos podem provocar dor durante o sexo?
A dor durante o ato sexual pode ser sintoma para alguns problemas ginecológicos. Algumas dessas condições podem agravar-se e dar origem a outras complicações de saúde como:
1. Distúrbios da pele
Alguns distúrbios da pele podem dar origem a úlceras ou feridas na pele da vulva. A dermatite de contacto é uma doença que afeta com frequência a área genital feminina.
A dermatite de contacto é uma reação a uma substância irritante, sobretudo, a produtos usados na higiene íntima como sabão ou gel de banho perfumado mas, também, a duches vaginais e uso de lubrificantes. A dermatite de contacto pode causar dor, ardor e comichão.
2. Vulvovagite – dor durante a relação e corrimento
A dor durante a relação e a alteração do corrimento pode dever-se a infeção da zona íntima. A vulvovagite afeta o corrimento vaginal, que deixa de ser homogéneo e cremoso para se tornar mais grumoso e com um tom esverdeado.
Com a alteração do corrimento, surgem outros sintomas como irritação da vulva e da vagina, comichão, vermelhidão, cheiro intenso e desagradável, desconforto ou sensação de ardor ao urinar. A vulvoganite mais frequente na mulher é a candidíase.
3. Alterações hormonais
Na perimenopausa (etapa que marca o fim da vida reprodutiva da mulher e que antecede a menopausa) e na menopausa (momento em que os ciclos menstruais encerram e a mulher deixa de menstruar de forma espontânea), os níveis decrescentes de estrogénio podem causar secura vaginal.
A terapia hormonal é uma opção de tratamento. Usar um lubrificante durante o sexo ou um creme hidratante vaginal também pode ser útil para diminuir o desconforto durante o sexo.
Paralelamente, o desejo sexual também pode diminuir. A capacidade de diálogo e compreensão mútua é fundamental para que ambos se adaptem a esta nova fase da vida a dois.
4. Vaginose bacteriana
A vaginose bacteriana deve-se à alteração da flora vaginal normal, sendo a infeção mais comum na vagina das mulheres, superando a candidíase vaginal e a tricomoníase.
Numa vagina saudável, estão presentes bactérias, nomeadamente Lactobacillus, que ajudam a proteger a zona íntima contra infeções provocadas por agentes externos.
No caso da vaginose bacteriana, a vagina é infetada por bactérias anaeróbias (bactérias que sobrevivem sem oxigénio), incluindo a Gardnerella vaginalis, Mycoplasma hominis e espécies deMobiluncos cuja presença altera o odor do corrimento vaginal que fica intenso e desagradável.
Este desequilíbrio pode dever-se ao uso de produtos de higiene agressivos, de desodorizantes vaginais ou ao dispositivo intra-uterino (DIU).
5. Vaginismo
O vaginismo é uma contração involuntária dos músculos da vagina, muitas vezes acompanhada com dor que se agrava durante a relação sexual. O vaginismo pode dificultar a penetração ou causar mesmo dor.
Na maioria dos casos, a mulher não consegue controlar as contrações que são uma resposta pélvica involuntária. O vaginismo tem tratamento e deve ser um problema relatado ao médico.
6. Parto
Durante o trabalho de parto, na fase de expulsão do bebé (2ª fase do parto), algumas mulheres podem precisar de uma ajuda extra para expulsar o bebé. Nestes casos, pode ser realizado um pequeno corte (episiotomia) para alargar o canal de parto.
Noutros casos, mesmo não havendo episiotomia, o parto vaginal pode provocar lesões no períneo. Nestes casos, a mulher pode sentir dor durante a relação sexual durante alguns meses, até estar totalmente recuperada. O tratamento inclui fisioterapia, medicamentos ou cirurgia.
Os exercícios de Kegel são aconselhados durante a gravidez e no pós-parto como forma de promover a elasticidade dos músculos da zona vaginal (períneo) e, assim, acelerar a cicatrização da ferida, minimizar o desconforto e acelerar a recuperação do trauma provocado pelo parto nos tecidos e músculos maternos.
7. Outras causas
Outras causas que podem estar na origem na dor durante a relação são a doença inflamatória pélvica, endometriose, entre outras.
O que esperar do médico sobre a dor durante a relação?
A sua história médica, história sexual, sinais e sintomas e achados do exame físico são fatores importantes para determinar a causa da dor. Às vezes, é necessário realizar testes para o correto diagnóstico.
Um exame pélvico ou a ecografia podem fornecer pistas sobre as causas de certos tipos de dor. Pode ser necessário fazer uma avaliação adicional, envolvendo uma laparoscopia (cirúrgica pouco invasiva que permite fazer procedimentos cirúrgicos na cavidade abdominal e pélvica).
O médico também poderá perguntar sobre os medicamentos que está a tomar e se tem alguma condição médica específica e/ou eventos passados que possam estar a afetar a sua vida íntima.
Poderá ser necessário alargar o tratamento a outras especialidades como dermatologia ou fisioterapia, se as causas identificadas assim o determinarem.
O que pode fazer para ajudar com a dor durante a relação?
Se sentir dor durante a relação sexual, deve começar por consultar um médico.
Entretanto, há algumas estratégias que pode tentar para aliviar o desconforto e a dor durante a relação sexual:
1. Use um lubrificante. Os lubrificantes solúveis em água são uma boa escolha no caso de irritação ou sensibilidade vaginal. Os lubrificantes à base de silicone duram mais tempo e tendem a ser mais escorregadios que os lubrificantes solúveis em água.
Não use vaselina, óleo para bebé ou óleo mineral com preservativos. Eles podem dissolver o látex e fazer com que o preservativo se rompe, perdendo eficácia.
2. Tire tempo para o sexo. Isto não quer dizer que tenha uma agenda com datas marcadas para os encontros íntimos. Contudo, é importante que reserve um momento do dia em você e o seu parceiro estejam descontraídos e com tempo.
3. Fale com o seu parceiro. Confie e diga ao seu parceiro onde e quando sente dor, bem como as posições que lhe causam menos desconforto.
4. Experimente atividades sexuais que não causem dor. Por exemplo, se a relação sexual for dolorosa, concentre-se no sexo oral ou na masturbação mútua.
5. Experimente atividades não-sexuais, mas sensuais, como a massagem.
6. Tome medidas de alívio da dor antes do sexo: esvazie a bexiga, tome um banho quente ou um analgésico sem receita médica antes da relação sexual.
7. Para aliviar a sensação de ardor após a relação sexual, aplique uma compressa gelada ou uma almofada de gelo (vende-se nas farmácias para alívio da dor da episiotomia) envolta numa pequena toalha na vulva.
Bibliografia: American Congress of Obstetricians and Gynecologists [visitado em 9 de outubro de 2017]