A maternidade há 60 anos em Portugal era radicalmente diferente do que temos na atualidade. Podíamos quase dizer que era como se vivêssemos noutro país que não Portugal. Este era um país pobre, rural e com uma enorme taxa de analfabetismo. Tínhamos a mais alta taxa de mortalidade infantil e as mortes maternas eram muito elevadas. A maternidade 60 anos é outra realidade: possuímos atualmente uma das mais baixas taxas de mortalidade infantil do mundo. Quanto à mortalidade materna, esta quase desapareceu. Saiba como era ser mãe e nascer em Portugal há 60 anos.
Baseámos a nossa pesquisa no documentário “Nascido para Viver”, realizado em 2012 pela Fundação Francisco Manuel dos Santos.
1961: como era a maternidade há 60 anos?
Há 60 anos, Portugal era um país pobre e rural, muitas povoações estavam totalmente isolados. Cerca de 33% da população não sabia ler e escrever. Vivia-se com uma ditadura e uma guerra colonial. A informação passava por uma censura antes de chegar à população. Havia muita ignorância.
Há 60 anos, o fator sorte era determinante para o sucesso dos partos e nascimentos.
A maternidade em 1961 era também muito diferente da realidade que vivemos hoje em dia. Nesse tempo, como referimos acima, havia uma grande taxa de mortalidade materna e infantil em Portugal. Nasciam muitos bebés, mas também morriam muitos bebés e mães em consequência do parto.
Os partos em ambiente hospitalar não chegavam aos 20% e quase todos sem anestesia epidural. Por isso, os partos duravam em média menos hora e meia que os de hoje em dia, mas eram muito mais dolorosos.
Assim, a grande maioria dos partos acontecia em casa, com a ajuda de vizinhas, amigas e família. Devido à falta de condições para prestar os cuidados essenciais aos recém-nascidos, muitos não sobreviviam.
Portugal era o país da Europa com a mais alta taxa de mortalidade infantil. Com efeito, morriam cerca de 77 bebés por cada 1000 nascimentos. A taxa de mortalidade infantil em 1961 era equivalente à que vemos atualmente em alguns países terceiro mundo.
A higiene era escassa, assim como os sistemas de água canalizada e saneamento. Por isso, muitas crianças malnutridas apanhavam doenças infeciosas. A diarreia afetava muitas crianças e muitas não resistiam, acabando por morrer.
Quase 80% dos partos eram em casa em 1961
Da mesma forma, as complicações no parto podiam causar a morte à mãe por falta de cuidados de saúde básicos. Purificação Araújo, médica ginecologista/obstetra aponta como principais causas para a elevada mortalidade materna há 60 anos, a hemorragia e complicações de aborto. O aborto era um procedimento muito frequente e uma das principais causas de morte materna.
Registavam-se muitos partos em raparigas menores, incluindo menores de 15 anos de idade. Por outro lado havia também bastantes partos em mulheres com idade considerada avançada para tal. Estas idades rondavam, pois, os 42 a 45 de idade.
Os principais fatores que causavam esta elevada mortalidade eram, pois, a falta de condições de vida, a ignorância e a falta de planeamento familiar. Há 60 anos, o fator sorte era determinante para o sucesso dos partos e nascimentos.
Novos tempos
A mudança que levou aos excelentes índices de mortalidade infantil e de morte materna praticamente inexistentes começaram na década de 1960. Mas os primeiros passos foram mesmo muito pequenos e vagarosos.
O Plano Nacional de Vacinação começou em Portugal em 1965. Contudo, no início a evolução foi tímida pois a ignorância e o medo impedia que a população aderisse às vacinas.
Registavam-se muitos partos em raparigas menores, incluindo menores de 15 anos de idade.
A Associação para o Planeamento da Família foi criada em 1967. Mas, tal como o Plano Nacional de Vacinação, esta associação foi inicialmente olhada com desconfiança pela Igreja e governo da época.
Albino Aroso médico ginecologista, recorda que em 1969 quando começou a trabalhar no Hospital de Santo António cerca de 8 em cada 100 mulheres que faziam abortos provocados. Contudo, como os abortos eram clandestinos as mulheres acabavam por recorrer ao hospital devido a complicações causadas por essas intervenções.
Em 1971 são criados dos Centros de Saúde que iriam depois ajudar a reverter a situação de elevada mortalidade Materna e Infantil em Portugal. É assim que muitas mulheres vão pela primeira vez ao médico. As mães começam a aprender os conceitos básicos de higiene e alimentação.
E a maternidade 60 anos depois?
Como podemos concluir, 60 anos depois, tudo é radicalmente diferente. É como se vivêssemos noutro país.
Hoje em dia, a nossa taxa de mortalidade infantil é uma das mais baixas não só da Europa, mas também do mundo! Morrem apenas cerca de três bebés em mil nascimentos. A mortalidade materna quase desapareceu.
Hoje em dia, os grandes desafios da área materno-infantil, consistem na falta de profissionais de saúde, no agravamento das condições de vida e ao aumento do nascimento de bebés prematuros ou com baixo peso à nascença.
Por outro lado, a nossa taxa de fecundidade é outra ameaça à maternidade nos dias que correm. Em 2016, por exemplo. Portugal foi o terceiro país da União Europeia a mais baixa taxa de fecundidade, apenas atrás de Espanha e Itália.
Referência: Documentário “Nascido para Viver“, Fundação Francisco Manuel dos Santos, em You Tube; Associação Portuguesa para o Planeamento da Família ; RTP Notícias