Depois da saída do bebê e da placenta, as contrações continuam para que o útero mantenha o seu equilíbrio e inicie o processo de recuperação do parto. A atonia uterina acontece quando, por algum motivo, o órgão perde a capacidade de contrair-se no pós-parto imediato.
Esta complicação tem como consequência direta a ocorrência de hemorragias, um cenário indesejado e crítico para qualquer parturiente. Com o comprometimento dos vasos sanguíneos uterinos, há uma volumosa perda de sangue. Caso a intervenção médica não seja rápida, o desfecho pode ser o pior de todos para a mulher.
A atonia uterina está na origem de mais de 80% dos casos de hemorragia no pós-parto imediato. Em Portugal e no mundo, essa é uma das principais causas de morte materna, associada a mais de 20% dos óbitos de mulheres que acabaram de dar à luz aos seus bebés.
Os sangramentos vaginais são comuns e esperados depois do parto, mas, quando ultrapassam os 500 ml, a intervenção deve ser urgente.
Fatores de risco para atonia uterina
Uma das principais formas de prevenir a atonia uterina é fazer um acompanhamento pré-natal cuidadoso. Durante as consultas na gravidez, são avaliados os fatores de risco e os profissionais de saúde devem definir estratégias para minimizar a possibilidade de ocorrência da complicação.
O útero perde a sua capacidade de contração quando há um excesso de esforço. O parto é um evento stressante para o órgão e, depois da saída do bebé, ele pode não responder como o esperado. Em algumas situações, há um risco aumentado de atonia uterina. São elas:
- Grávidas com obesidade;
- Grávidas com menos de 20 ou mais de 35 anos;
- Gravidez de gémeos;
- Parto muito demorado;
- Polidrâmnio (excesso de líquido amniótico);
- Macrossomia fetal (bebé considerado acima do peso na altura do nascimento);
- Presença de miomas no útero.
O uso de medicações para acelerar o parto também pode desencadear a atonia. A oxitocina sintética, por exemplo, ao ser administrada indiscriminadamente pode provocar um esforço excessivo do útero e o seu posterior “colapso”. Portanto, convém que toda a equipa esteja alinhada para prestar cuidados adequados e seguros.
Protocolo de prevenção e tratamento
A monitorização da parturiente é imprescindível para que a equipa presente no parto possa detectar qualquer alteração e intervir adequadamente. A hemorragia no pós-parto decorrente da atonia uterina requer ações rápidas e um protocolo bem definido para conter o sangramento o quanto antes.
Uma medida preventiva que faz parte das recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) é a administração de oxitocina sintética na fase de expulsão da placenta. A substância estimula as contrações e a homeostasia do útero. Também podem ser feitas massagens no abdómen.
Caso o órgão não responda, os profissionais precisam realizar uma intervenção cirúrgica. A depender do quadro, diferentes procedimentos podem ser feitos, como suturas ou desvascularização. Em último caso, pode ser necessário recorrer a uma histerectomia, ou seja, a retirada do útero da mulher.
Possíveis consequências da atonia uterina
Nos casos mais graves, a atonia uterina pode levar à morte da mulher. Por este motivo, é tão importante que a ação dos profissionais de saúde seja imediata assim que são identificados os primeiros sinais.
A histerectomia também é uma consequência indesejada. Pode ser a única forma de salvar a vida da parturiente, mas também a impossibilita de engravidar novamente, se for essa a sua vontade.
A atonia uterina também está associada a outros problemas de fertilidade posteriores, dificuldades de coagulação e alterações nos rins e no fígado que podem conduzir à falência dos órgãos.