O período pós-parto, ou puerpério, inicia-se após o nascimento com a saída da placenta. O puerpério estende-se por seis a oito semanas após o parto, período em que o seu corpo retorna às condições anatómicas e fisiológicas anteriores à gestação ao mesmo tempo que recupera do esforço da gravidez e do trabalho de parto.
O período do puerpério divide-se em três etapas:
- Do 1º ao 10º dia: puerpério imediato
- Do 10º ao 45º dia: puerpério tardio
- Após o 45º dia: puerpério remoto
A consulta do puerpério (ou consulta de revisão do pós-parto) é normalmente marcada na última consulta de vigilância anterior ao parto entre a quarta-sexta semanas após o parto (30 a 40 dias após o parto). Nesta consulta será realizado um exame ginecológico, esclarecidas dúvidas sobre a amamentação e prestadas orientações quanto à contraceção (sendo que está aconselhado aguardar até à 4ª semana após o parto para reiniciar a vida sexual).
Como se adapta o seu corpo no pós-parto e principais incómodos associados ao puerpério
Temperatura
Quando se dá a “subida do leite“, as mamas podem ficar tensas e dolorosas (ingurgitamento). A temperatura pode elevar-se até aos 38ºC durante 24 horas. Outros fenómenos fisiológicos próprios do pós-parto como a proliferação de bactérias vaginais que sobem até à cavidade uterina, podem originar um ligeiro aumento da temperatura corporal por volta do terceiro dia, cuja duração não excede as 48 horas.
Dor abdominal
Na primeira semana pós-parto, as cólicas abdominais podem causar algum desconforto intensificando-se nos períodos de amamentação. A produção e ocitocina (hormona segregada pelo hipotálamo, que provoca as contrações uterinas durante o trabalho de parto e estimula a secreção do leite materno), estimula a contração do útero o que pode provocar dores e desconforto abdominal.
Lóquios
Depois do parto, o útero, colo do útero, vagina e abdómen começam a encolher para o tamanho que tinham antes da gravidez. À medida que o útero se contrai, vai ter um corrimento vaginal, conhecido por lóquios, secreção vaginal composta por sangue e outros produtos vaginais. Tem um odor forte e característico. Se estiver a amamentar, a produção de ocitocina ajuda a recuperar mais rapidamente.
Aparelho urinário
De acordo como o trabalho de parto decorreu poderá ter ou não dificuldade em urinar. Após as primeiras semanas, tudo voltará ao normal. É muito importante que continue a praticar os exercícios de Kegel no pós-parto para fortalecer a musculatura pélvica e que preste especial atenção à sua higiene íntima (se houve a necessidade de proceder a uma episiotomia, é normal que sinta mais desconforto ao urinar mas existem algumas estratégias que pode usar para o minorar).
Contrair e relaxar os músculos da pélvis e da uretra (aqueles que nota quando tenta parar o fluxo da urina) em séries de 10 repetições, pelo menos, 3 vezes por dia ajuda a devolver-lhes a elasticidade e força apropriadas.
Aparelho digestivo
O relaxamento da musculatura abdominal e perineal e o desconforto provocado por uma eventual episiotomia ou hemorroidas podem dificultar a evacuação. Não se auto-medique (especialmente se está a alimentar o seu bebé ao peito). Peça ajuda ao seu médico ou ao enfermeiro que a acompanha na Unidade de Saúde.
Alterações psíquicas e emocionais
No pós-parto, a pressão da responsabilidade causada pelo nascimento, o próprio processo do trabalho de parto, a ansiedade, dúvidas e receios (especialmente relacionados com a amamentação e os cuidados ao bebé), podem-na fazer oscilar entre momentos de grande de felicidade e de melancolia.
É perfeitamente normal que sinta alguma instabilidade emocional provocada pelas novas circunstâncias e desafios e por estar afastada do conforto da sua casa e longe do apoio familiar. O baby blues ou, situação mais grave, a depressão pós-parto são mais frequentes do que se pensa e atingem muitas mães nas primeiras semanas após o parto. Peça ajuda e não se isole em dúvidas, ansiedades e preocupações desnecessárias. Converse com o seu médico e envolva o seu companheiro nesta nova etapa e nos cuidados ao vosso filho. Descomplique e informe-se.
Mamas
O colostro (ou primeiro leite materno, riquíssimo nutricionalmente e perfeitamente adaptado às necessidades do bebé) pode estar presente desde a segunda metade da gravidez ou surgir apenas nos primeiros dias após o parto. Por volta do terceiro dia pós-parto sentirá o seu peito mais cheio e firme, sensação que pode ser acompanhada por um ligeiro desconforto. Esta alteração (descida do leite) é sinal de que o colostro começa a mudar para leite de transição (4 a 5 dias após o parto) e designa-se ingurgitamento fisiológico (cerca de 15 dias após o parto, o leite de transição dá lugar à produção do leite maduro).
O ingurgitamento pode ser passageiro (até 24 horas) ou durar vários dias (4 a 5 dias). O importante é não desistir e procurar ajuda dos profissionais para manter a amamentação e encontrar estratégias que a ajudem a diminuir o ingurgitamento. Gradualmente, o seu corpo ajusta-se e começa a produzir exatamente a quantidade necessária para o seu bebé.
Experimente compressas geladas após a amamentação. Sempre que o bebé mamar, ficará mais aliviada e o desconforto atenua-se. Se ajudar, pode extrair algum leite para compensar o excesso de produção e assim esvaziar as mamas. Um aspeto fundamental para o sucesso da amamentação é a forma como o seu bebé pega no mamilo. Ajude-o a encontrar a posição ideal para amamentar o que também favorecer o seu bem-estar e a integridade dos mamilos.
Experimente massajar o peito para ajudar à “subida do leite“: segure o seio com as duas mãos, uma de cada lado, e faça uma ligeira pressão da base até ao mamilo. Repita este movimento 5 vezes, sempre com muita delicadeza. De seguida, faça o mesmo movimento mas com uma mão e cima e outra em baixo da mama. Pode fazer esta massagem 1 a 2 vezes por dia.