O streptococcus (ou estreptococos) é uma bactéria naturalmente presente no tubo digestivo, intestino e vagina de muitas mulheres que não causa quaisquer sintomas. Se a mulher for portadora da bactéria durante a gestação, existe o risco de a bactéria colonizar o recém-nascido no parto, o que pode originar complicações como septicemia, pneumonia e meningite. É precisamente por esses motivos que é tão importante fazer o “exame do cotonete” e detetar precocemente a presença ou não do “bichinho”.
Atualmente, a vigilância da gravidez inclui uma série de exames laboratoriais cujo objetivo é rastrear, prevenir e/ou tratar situações de saúde materno-fetal ou perinatal (período compreendido entre a 28ª semana de gravidez e o 7º dia de vida do recém-nascido).
No âmbito das infeções na gravidez são efetuados os rastreios universais da sífilis, rubéola, toxoplasmose, vírus da imunodeficiência humana (VIH), hepatite B e do streptococcus β hemolítico do grupo B de Lancefield (SGB).
Exame do Cotonete: Streptococcus na gravidez
O streptococcus é considerado o agente mais frequente de infeção bacteriana perinatal nos países desenvolvidos, sendo também o agente mais frequentemente encontrado nas infeções neonatais precoces em Portugal.
Como e quando é realizado o diagnóstico?
O diagnóstico do streptococcus é realizado em todas as gestações mesmo quando o resultado tenha sido negativo numa gravidez anterior.
Caso haja historial da presença da bactéria numa gestação anterior ou caso o agente seja isolado numa urocultura numa qualquer altura da gravidez, não é necessário fazer o rastreio.
Contudo, fora esses casos, o rastreio (exame do cotonete) é realizado entre a 35ª e 37ª semana de gravidez (altura da 5ª consulta da gravidez) através da colheita e cultura do exsudado vaginal e retal. A recolha é realizada no consultório do obstetra durante a consulta.
Os resultados demoram alguns dias. A informação do resultado do exame é registada no processo clínico e no boletim de saúde da grávida. Caso seja positivo, o médico assistente irá informá-la desse facto de modo a que possa alertar a equipa assistente aquando da admissão hospitalar para o parto.
O exame do cotonete deu positivo. E agora?
No caso de parto vaginal, e quando a mãe é ou foi no passado portadora da bactéria (resultado positivo), é administrado antibiótico (penicilina, ampicilina ou cefazolina) logo que se inicia o trabalho de parto ou perante a rotura das membranas amnióticas (ver Rotura prematura das membranas).
O antibiótico é administrado por via intra-venosa sendo mais eficaz quando iniciado pelo menos 4 horas antes do nascimento, com pelo menos duas tomas de antibiótico antes do parto.
O antibiótico evita que as bactérias colonizem o recém-nascido ainda no útero (o que acontece quando as bactérias sobem desde o canal de parto até à cavidade amniótica) ou durante a passagem do bebé pelo canal vaginal.
No caso de parto por cesariana programado, o risco de infetar o bebé é menor, e o médico poderá optar por fazer ou não o tratamento com antibiótico antes de iniciar a cirurgia.
Ameaça de parto prematuro
O início do trabalho de parto antes das 37 semanas de gestação (parto pré-termo) é considerado um fator de risco para infeção por streptococcus. Nesta situação, é realizada uma colheita na admissão hospitalar e iniciada a administração de antibiótico se o risco do parto se desencadear for grande.
Fatores de risco para infeção do recém-nascido por streptococcus
Na maioria dos bebés com doença precoce por streptococcus não se consegue identificar qualquer fator de risco associado. Contudo, a probabilidade do recém-nascido contrair a doença aumenta na presença de certos fatores, como:
- Parto prematuro (quando se inicia antes das 37 semanas);
- Corioamnionite materna – infeção bacteriana das membranas e do líquido amniótico – (considerado o fator de risco mais importante);
- Rotura prolongada de membranas (igual ou superior a 18 horas);
- Infeção urinária materna causada pela bactéria streptococcus em qualquer altura da gravidez;
- Gravidez anterior com infeção neonatal precoce por streptococcus;
- Febre materna igual ou superior a 38º C;
- Deficiência de anticorpos maternos específicos.
Complicações para o bebé
A infeção do recém-nascido por streptococcus designa-se por infeção precoce quando ocorre na primeira semana de vida e infeção tardia, quando ocorre entre a primeira semana e os primeiros três meses de vida.
O recém-nascido com infeção precoce geralmente apresenta dificuldade respiratória e apneia ou outros sintomas de sépsis nas primeiras 24 a 48 horas de vida. Posteriormente, pode manifestar-se pneumonia, septicemia ou, menos frequentemente, meningite.
Indicadores de possível infeção neonatal precoce
Caso o recém-nascido tenha sido exposto a fatores de risco para infeção, será observado durante as primeiras horas de vida para avaliação e despiste de sinais de infeção, nomeadamente:
- Alterações do comportamento e reatividade;
- Alterações do tónus muscular;
- Dificuldades com o aleitamento (como recusa alimentar);
- Intolerância alimentar (vómitos, distensão abdominal);
- Alterações do ritmo cardíaco;
- Sinais de dificuldade respiratória;
- Icterícia neonatal nas primeiras 24 horas;
- Alterações da glicémia;
- Sinais de infeção local (pele, olhos).
Prevenção de doença neonatal precoce
Em 2002 foi publicado pelo Centers for Disease Control and Prevention (EUA) o protocolo que reúne atualmente mais consenso. Este preconiza a profilaxia antibiótica a grávidas portadoras de streptococcus detetadas por rastreio cultural sistemático ou na presença de fatores de risco em grávidas não rastreadas.
Bibliografia: Estreptococo β Hemolítico do Grupo B Protocolo de Rastreio e Prevenção de Doença Perinatal. Alexandra Almeida, João Agro, Lourdes Ferreira – Consensos Nacionais Neonatologia 2004.