Muitas crianças parece que nascem com uma personalidade muito própria, que se vai revelando com o passar do tempo e com o seu próprio desenvolvimento. O ambiente, os estímulos e as relações têm aqui um papel predominante, mas uma parte da personalidade e atitude é ditada pela genética.
Sabemos que todas as crianças são diferentes e há pequenos mais sensíveis ao ambiente que os rodeia e às mudanças, respondendo com medo, choro, stress e ansiedade a quase todas as circunstâncias durante a infância.
As crianças apresentam duas respostas muito diferentes ao ambiente em que estão inseridas: por meio da sensibilidade e da resiliência. E a origem desta resposta é genética.
Thomas Boyce, pediatria, psiquiatra e professor da Universidade da Califórnia, dedica-se ao estudo do stress nas crianças há mais de 40 anos e formulou uma teoria perante a resposta dos mais pequenos ao ambiente externo. Existem as chamadas crianças orquídea, que desanimam e “murcham” perante uma infância difícil ou estímulos negativos – mas que prosperam num ambiente positivo – e as crianças dente-de-leão, menos afetadas por fatores externos e que mostram uma atitude mais resiliente.
As crianças orquídea
Do ponto de vista biológico, as crianças orquídea apresentam maior uma vulnerabilidade aos diferentes estímulos. Por exemplo, reagem de maneira mais intensa aos sons, percebem facilmente qualquer mudança mínima na sua alimentação e irritam-se ou tranquilizam-se de acordo com o estado de espírito dos pais ou familiares.
Qualquer pequena mudança terá um impacto significativo no seu comportamento e, em geral, estas alterações são uma grande origem de stress e ansiedade. As situações são extrapoladas e exageradas, sendo uma ameaça e os recentes estudos comprovaram que estas crianças estão mais propícias a doenças como asma, distúrbios de ansiedade e de depressão.
Crianças orquídeas são mais reativas, delicadas e sensíveis ao ambiente que as envolve.
Estas crianças vivem as situações de forma intensa, são mais sensíveis aos aspetos negativos e facilmente incompreendidas. Prosperam e desenvolvem-se corretamente em ambientes felizes, seguros e estimulantes e “murcham” perante situações minimamente stressantes – precisamente como as orquídeas que necessitam de um ambiente apropriado para florescerem. No fundo, estas crianças requerem uma maior compreensão e compaixão dos pais/cuidadores, familiares e educadores.
As crianças dente-de-leão
Por outro lado, as crianças com traços dente-de-leão são as mais resistentes. No geral, são extrovertidas, com um grande interesse em interagir e descobrir o ambiente em redor sem medos ou preocupações. Apresentam, também, uma maior tolerância a situações stressantes ou traumáticas e não reagem exageradamente às mudanças.
Estamos perante miúdos ativos, curiosos, pouco ansiosos e com uma grande vontade de aprender, testar e, se preciso, errar. Têm uma personalidade muito ativa e alegre e não se deixam abalar por acontecimentos negativos.
Crianças dentes-de-leão sâo mais resilientes e imunes a situações de stress e a adversidades.
Se pensarmos, os dentes-de-leão crescem nos mais variados ambientes, muitas vezes em situações extremas e, mesmo assim, sobrevivem – daí a comparação.
Educar da melhor forma implica conhecer as necessidades da criança
Somos uma sociedade dente-de-leão. Incentivamos as crianças a serem resilientes, fortes, independentes – características que não correspondem a uma orquídea.
É fácil perceber que existem crianças mais confiantes e resistentes e outras mais vulneráveis e sensíveis a estímulos. Por isso, é importante conhecer as particularidades dos seus filhos para educar adequadamente.
Se perceber que poderá ter uma criança orquídea na família, o melhor é orientá-la para se sentir mais segura de si em todas as circunstâncias. Sem pressionar, sem oprimir ou julgar. A compreensão, o amor e o respeito são a base de tudo.